Mais uma vez, as águas do Rio Capivari avançaram sobre ruas, casas e comércios, deixando um rastro de destruição e desespero nas cidades da região. Rafard, Capivari e Monte Mor enfrentaram mais uma temporada de enchentes, trazendo à tona um questionamento inevitável: esse problema tem solução?
Todos os anos, assistimos a uma repetição do mesmo cenário. O nível do rio sobe, a população sofre e os prejuízos se acumulam. Medidas paliativas como o desassoreamento do rio foram implementadas, mas a realidade é que o problema não parece estar diminuindo. Pelo contrário, as enchentes estão cada vez mais intensas, e o que antes era uma preocupação sazonal agora se tornou uma ameaça constante.
O crescimento urbano desordenado, o avanço da ocupação de áreas de várzea e o desmatamento das margens são fatores que agravam a situação. A impermeabilização do solo impede a absorção da água da chuva, fazendo com que grande parte do volume precipitado escoe diretamente para o rio, aumentando a sua vazão de forma rápida e perigosa. Some-se a isso a falta de um plano estratégico de drenagem e contenção que contemple a bacia hidrográfica como um todo, e temos um problema de grandes proporções.
A pergunta que precisamos responder não é apenas se há solução, mas sim qual caminho deve ser seguido para que essas enchentes deixem de ser uma calamidade recorrente. A contenção efetiva das águas requer investimentos em infraestrutura de drenagem urbana, recuperação de nascentes, ampliação de áreas de retenção hídrica e um plano de habitação que impeça a ocupação irregular das margens. Além disso, ações de educação ambiental e fiscalização são essenciais para conter o descarte irregular de lixo, que contribui para o entupimento dos canais e agrava o problema.
Mas essas soluções exigem tempo, planejamento e, sobretudo, vontade política. É preciso que as esferas municipal, estadual e federal trabalhem juntas em um plano integrado e duradouro, que vá além de medidas emergenciais e ataques pontuais. A natureza já deu sinais suficientes de que não podemos mais adiar essa discussão.
Enquanto não houver um compromisso efetivo com a mudança, continuaremos a assistir, ano após ano, ao drama de famílias desalojadas, comerciantes contabilizando prejuízos e cidades inteiras mergulhadas na lama da inércia governamental.
A questão não é se as enchentes vão acontecer novamente, mas sim até quando aceitaremos que essa tragédia se repita sem uma solução definitiva.