J.R. Guedes de Oliveira

São Paulo, mais do que uma ‘Terra da Garoa’

28/01/2017

São Paulo, mais do que uma ‘Terra da Garoa’

José Roberto Guedes de Oliveira é escritor e historiador, de Capivari (Foto: Arquivo/O Semanário)
José Roberto Guedes de Oliveira é escritor e historiador, de Capivari (Foto: Arquivo/O Semanário)

ARTIGO | Esses jesuítas que fundaram o Colégio de São Paulo, nos idos de 1554, (25 de janeiro), há 463 anos passados, merecem a nossa reverência, com as pompas e festividades que lhes são de direito.
Ah, São Paulo. Terra da Garoa, gente brava, batalhadora, de todos os rincões deste imenso “povão” que se chama Brasil. E, ainda, esses imigrantes e emigrantes que se mesclaram, tornaram-se miscigenação, fundiram-se no aço e na têmpera dessa orbe paulistana.
Cantar… cantar… sempre cantar os seus feitos, as suas grandezas, os seus Bandeirantes, desbravando a mata, construindo o progresso, vivenciando o presente, rememorando o passado.
São Paulo das manifestações sociais, das conquistas científicas, do corre-corre em busca de um não sei o quê, mas apressado, tangido pela modernidade, com os seus arranha-céus buscando o Onipotente.
É lembrar que um riacho, o mais famoso do país, até hoje é cantado em versos, pela sua experiência de presenciar o Grito da Independência.
O seu Tietê passado, fétido hoje, mas a história das expedições. E parece que a consciência exige reverter o descaso a que se sujeitou, na ação de trazê-lo de volta: límpido, piscoso, navegável.
As suas avenidas. A Paulista, por exemplo, palco das principais manifestações festivas ou reivindicatórias, onde sempre se misturam sindicalistas, anarquistas, comunistas, capitalistas e outros “istas”. Um formidável e extenso corredor, de bancos, comércio, negócios e tudo o mais. Vê-se, na imponência do edifício, a FIESP.
A Avenida São João, que grandeza espiritual encerra em suas calçadas, em suas construções. Quanto viu, quanto sentiu, quanto foi palco.
E neste espírito de avivar a sua memória, recordo os versos do poeta “da tristeza e resignação” Rodrigues de Abreu, quando, na década de 20, ele dizia em seu poema São Paulo: “Longe, nesta estação de cura,/ é que a cidade de São Paulo vive em mim./ Porque ela está em mim, edificada/ na colina nevoenta da minha saudade… / Mas, que linda cidade para o olhar!… / São Paulo edificado em mim!/ A minha alma é um bonde vazio/ descendo a Ladeira do Carmo da minha saudade,/ envolto no véu da garoa noturna…”
São Paulo é assim: uma espécie de orbe, em ritmo acelerado, que chega aos seus 462 anos na sua audácia de cidade. Ou, talvez, de uma metrópole? Ou, ainda, quem sabe, de uma megalópole?
Seus “times”, que tal? São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Portuguesa, etc… Seus símbolos, patrimônios, edificações rasgando o tempo, o viso, a forma, o desejo. Hotéis surpreendentes, vida noturna agitada. Bares, cafés, lanchonetes, clubes, pizzarias, repastos por todos os cantos.
Lembrar a cultura: MAM, MASP, Pinacoteca, Memorial da América Latina, um cem número de editoras, um raio enorme de Centros Literários, a grandeza da Academia Paulista de Letras, museu do Ipiranga (que colossal!), os concertos do Teatro Municipal, o saudoso Mappin, os sebos da Itapetininga, hoje nas imediações da Praça da Sé. E a Praça da República?
Ah! Os cultos religiosos, a forma e vivência entre “gregos e troianos”. Exemplo para o mundo que se vê entre contrastes e guerras. Fundem-se maometanos, budistas, católicos, presbiterianos, luteranos…
Mas São Paulo da educação: a USP de renomados cientistas, de professores gabaritados, a Faculdade do Largo de São Francisco, os colégios, os Senais., a grande e respeitada rede de ensino municipal, a enorme corrente de ensino da educação fundamental, do ensino médio.
São Paulo dos lampiões de gás, das serestas, do chorinho, da saudosa Inezita Barroso! Ah! mulher que lembra São Paulo e se mistura com as suas tradições… Dos Demônios da Garoa.
São Paulo não é estático e nem se queda. É o subúrbio agitado, tendo em seu entorno a grandeza do espírito paulista. É como acentuou o poeta Paulo Bomfim: “o suave encanto de uma Paulicéia que nos pede um momento de saudade!”.
Esta terra de gente cativa, altaneira, que abre os braços, produz o progresso…locomotiva deste imenso Brasil.
Não é São Paulo um fruto isolado de uma árvore amiga. É o complexo de seus bairros, de sua vida agitada, do seu destino maior: um mundo de maravilhas e surpresas.
Ao viajor que chega, os braços abertos, as luzes, ou, ainda, uma ilusão perdida, mas, da sorte, o compromisso de dar as ferramentas, capacitar para o trabalho, encher de entusiasmo e de futuros promissores.
São Paulo é assim: os contrastes de toda sorte. Mas, contudo, o berço aconchegante dos filhos da Pátria Gentil.
Cantam-se as suas façanhas, as suas proezas, naquela sua Estação da Luz. E, ao mesmo tempo, não longe, choram-se as suas tristezas nas masmorras de um tempo que a memória não apaga, mas, hoje, transformado em museu que conta a repressão tão recente.
Os seus cinemas. O São João, por exemplo. Que encanto, que saudade. E o seu Teatro Santana? Que fugidas, para as sessões das 12:00 às 24:00 horas. Milonguitas safadas!
Cidade erguida por mãos de irmãos: do norte, do sul. Mãos calejadas do cimento, da areia, da pedra. Concreto armado, que rasga o espaço, buscando do infinito.
São Paulo de inúmeros problemas, de tantas soluções, de centenas de milhares de canteiros, de obras miraculosas, de chão pilado, de nobreza, de pobreza, mas São Paulo!
Há tanto para se cantar, para se falar, para se sentir, ao visualizar a São Bento, o Brás, o Cambuci, a Lapa, Santana, a marginal Tietê. O Pinheiros, com as suas variantes, o seu olhar para o interior e para o litoral. Que estupenda via de acesso, que colossal empreendimento de arrojada ideia.
É lembrar que o Parque Ibirapuera tem algo de extraordinário, assim como o Aeroporto de Congonhas e, mesmo perto, o seu Jardim Zoológico. Tudo entrelaçado, tudo num mundo de opções. Sem falar, ainda, da Represa Billings, Edifício Martinelli, Instituto Butantã, Horto Florestal e por aí adiante.
Ah! Que maravilha: o famoso Viaduto do Chá, o Santa Efigênia, olhando de cima para baixo, contemplando o Vale do Anhangabaú. A febre intermitente de seus carros, que rasgam as avenidas, de suas pessoas apressadas.
E a grandeza de seus tribunais da João Mendes? Os homens, impecavelmente trajados, cheios de ideias em suas pastas recheadas; as mulheres (Oh! Deus!), produzidas para os embates das audiências.
E seus homens das indústrias, do comércio, dos escritórios? Essa gente que apanha o Metrô, dá sinal para ônibus e essas jovens formosas que encantam as suas ruas, São Paulo.
E, ainda, essa gente do trabalho informal: camelôs, catadores de papel, vasculhadores do lixo, da pobreza, da busca de melhores dias. É tudo complexo.
Mas São Paulo é assim. É o fervilhar deste formigueiro gigante que mais parece refletir uma imensa “Paulicéia Desvairada”, como escreveu o Mário de Andrade.
Rendam-se aos seus pioneiros – seus jesuítas, como o Padre Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, a notável decisão de construir aquele barraco, para a catequese dos índios. E culminou, entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, o histórico Colégio de São Paulo. E o tempo cuidou de desenvolver, com a febre incontrolável da expansão e da riqueza, esta cidade de encantos, de belezas, de tradições.
São Paulo está em nosso coração, vive no seu pulsar, mora em nosso peito varonil. Terra de gente de trabalho, de dimensão, de história, de lutas, de decência, de grandeza, de acendrado amor ao Brasil.
Ó cidade santa, como é o seu nome, São Paulo!

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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