ArtigosRubinho de Souza

Tempo perdido ou tempo ganho?

Todos nós, eventualmente enfrentamos muitas vezes uma fila de espera, seja no banco, no caixa do supermercado, no pedágio com o trânsito engarrafado, nas consultas médicas, enfim, o que sentimos quando somos obrigados a esperar, é um sentimento impotência, de angústia e impaciência.

Num primeiro momento, essa espera parece-nos, um intervalo, cujo tempo poderia ser melhor aproveitado, pois é um lapso temporal sem valor próprio, um “tempo perdido” diante do qual nada há a fazer…

Seria esse tempo – quando enfrentamos essas situações – totalmente perdido se não pudéssemos aproveitar para nada, mas, sim, podemos e devemos, nestes momentos, aproveitá-los para fazer uma reflexão sobre a confrontação do indivíduo com o tempo em sua essência.

Na correria do dia a dia, agimos como uma máquina, onde cada ação tem um propósito, como se fôssemos programados para atuar na duração de um certo intervalo de tempo e, quebrar esse paradigma, gera em nós angústia e impaciência, pelas circunstâncias que contrariam a nossa vontade.

Mas a espera pode também se tornar prazerosa, se aproveitarmos para conversar com alguém da fila já que somos obrigados a esperar, e, ao invés de cada minuto ser um fardo, essa espera nos contempla com a experiência de troca de ideias e conhecimento por curto que seja o diálogo, visto que estamos usando nosso tempo de maneira mais útil.

Se assim fizermos, a espera ao invés de ser encarada como um tormento, ela pode ser uma abertura para a introspecção, que é o conforto que pode ser sentido, quando exploramos nosso próprio pensamento.

Nesse sentido, a espera pode ser uma oportunidade de suspender a mecânica cotidiana de nossa vida, uma pausa forçada para a reflexão, pois na verdade, não possuímos o tempo como um valor a ser gasto, nós somos o próprio tempo que vivemos.

O estoicismo nos ensina que não temos controle sobre os eventos externos, mas apenas sobre nossa reação a esses eventos, e, esse controle de nossa reação é que decidirá o quanto somos afetados por tais eventos.

A sabedoria consiste em transformar qualquer situação adversa em um exercício de virtude. Se a espera é inevitável, devemos usá-la como um exercício para desenvolver a paciência e a contemplação, fazendo desse momento, uma oportunidade de redescoberta, fazendo aflorar nossas memórias, novas ideias, organizar nossos pensamentos, visitando nosso próprio tempo interior.

Que tal, na próxima vez que você tiver que esperar, exercitar estes conceitos e aprender a viver a espera não como um tempo perdido, mas como um tempo pleno, e, em vez de ansiar pelo instante em que a fila acabará, se permitir estar ali, atento, num verdadeiro desafio filosófico da espera, para transformar a partir daí, o que seria um martírio, numa uma experiência autêntica de introspecção, visto que todos estão ali, lado a lado, presos ao mesmo destino inevitável.

A fila é uma metáfora da finitude de nossa vida, pois assim como na vida, ninguém consegue evitar a espera e também ninguém pode furar a fila do tempo.

No fim, a espera nos ensina aquilo que tentamos evitar: que o tempo não nos pertence, que o controle é uma ilusão, que somos, essencialmente, seres lançados no fluxo inexorável da existência. E talvez, se aprendermos a esperar sem desespero, possamos descobrir que o verdadeiro tempo perdido não está na fila — mas na recusa de percebermos a riqueza que ela nos oferece.

Concluindo, a fila de espera é um teste para nossa relação com o tempo e com nós mesmos. Depende de nós, vivê-la como um desperdício angustiante, alimentando a impaciência e a frustração, ou, dar a ela um novo significado, como um espaço de consciência, um instante de suspensão que nos permite refletir sobre a própria natureza da temporalidade, fator peculiar de nossa existência.

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