Opinião

Traços do caráter: humildade

20/02/2015

Traços do caráter: humildade

Artigo | Por Leondenis Vendramim

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

“Diante da honra vai a humildade”, diz o sábio Salomão (Pv 15:33). A humildade não adorna o caráter dos tolos e nem por eles é apreciada. Aurélio define essa palavra como sentimento que revela a fraqueza, respeito, reverência. Humildade não serve aos altivos e ególatras, porém faz parte dos grandes homens de firmeza pelo que é reto e justo, temperante, honesto e filantropo. Humildade é a modéstia dos homens cuja grandeza reconhece suas limitações. Sócrates dizia “Uma coisa sei, é que nada sei”. Laplace, o gênio, da obra monumental “Mecânica Celeste”, escreveu: “O que sabemos é pouco, o que não sabemos é imenso”. A humildade coroa os grandes homens, a presunção cega e adjetiva os medíocres. Para crescer o homem precisa reconhecer-se pequeno. Ninguém dedica seu tempo ao estudo se pensar que já sabe, ninguém luta contra maus traços de caráter se não aceitar seus defeitos.

William Carey (1761-1834), missionário na Índia por 40 anos, traduziu a Bíblia para o indu, sânscrito e para o mandarim; lançou o primeiro jornal no vernáculo de Bengala; a primeira tipografia, criou a fábrica de papel e a primeira máquina a vapor da Índia, criou colégio, constituiu a primeira missão médica nesse país; criou a sociedade para fomento da agricultura, traduziu grandes épicos sânscrito. Quando o Alexandre Duff o visitou elogiou-o. Ele respondeu: “Sr. Duff, o senhor tem falado do Dr Carey… não diga nada do Dr Carey – fale apenas do Salvador do Dr. Carey. Sob suas ordens colocaram em sua sepultura a inscrição: “William Carey… Um verme, miserável e pobre, desamparado, em Teus bondosos braços caio”.

A História registra que na Idade Média havia um curso de 3 anos: no primeiro os alunos eram chamados sábios, no segundo filósofos (amigos da sabedoria) e no terceiro, aprendizes.

Agostinho escreveu: “Se me perguntásseis qual a primeira coisa na religião, responderia: a primeira, a segunda a terceira coisa – sim tudo – é humildade”. Dizem os pregadores religiosos que quanto mais se aproxima da luz mais se enxerga os defeitos e sujeiras, quanto mais se aproxima de Deus, mais se sente a pecaminosidade e necessidade de salvação.
A parábola sobre o “Filho Pródigo”, narrada por Jesus Cristo, nos ensina a humildade. O filho mais novo de um pai abastado pretendendo viver os prazeres da vida, pediu ao pai a sua parte da herança. Concedido, saiu mundo a fora. Com muito dinheiro, granjeou logo muitos amigos de farra; gastou tudo quanto tinha em drogas, bebidas, mulheres, coisas da mocidade medíocre e desajuizada. Então perdeu os amigos, e desamparado solicitou trabalho. Só encontrou com um criador de porcos. Seus ganhos eram tão mínimos, que tinha de completar sua alimentação com a comida dos porcos. Meditando na sua miserabilidade, lembrou-se de seu pai, homem generoso, cujos empregados viviam uma vida bem melhor. Claro que deve ter passado pela sua mente o drama todo: desprezou o pai, sua família, cobrou a herança antecipada, dissipou-a com orgias, causando profunda tristeza ao seu genitor. Reconheceu: não mereço nada, nem ser chamado seu filho; mas talvez ele tenha misericórdia de mim e me receba como empregado, o que melhoraria minha vida. Afinal, não mereço nada mais. Assim levantou-se e foi. Para seu espanto, vinha ao seu encontro, o saudoso e velho pai de braços abertos: abraçou, beijou, envolveu-o com seu próprio casaco, deu seu anel como sinal que o recebia como filho, fez um banquete para expressar a alegria de pai que encontra o filho perdido.
É difícil para nossa natureza, orgulhosa, reconhecer nossos erros. Mas numa briga entre casais, entre pais e filhos, entre irmãos e mesmo entre vizinhos, ainda é verdade: “Diante da honra vai a humildade”. Aquele que se humilha e pede desculpas, mesmo não sendo o culpado, será engrandecido pelo oponente e será grande aos olhos de Deus. Receberá paz, terá mais saúde (seu fígado vai agradecer), voltará a ser alegre e terá mais disposição. “Aquele que se humilha será exaltado”.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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