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Um mês após intervenção, padre Adalton apresenta atual situação da Santa Casa

26/02/2016

Um mês após intervenção, padre Adalton apresenta atual situação da Santa Casa

Interventor falou sobre como encontrou o hospital, as principais ações tomadas e os primeiros resultados
Padre Adalton Demarchi, nomeado intervento da Santa Casa, fez um raio-x da atual situação (Foto: Divulgação/Câmara de Capivari)
Padre Adalton Demarchi, nomeado intervento da Santa Casa, fez um raio-x da atual situação (Foto: Divulgação/Câmara de Capivari)

Antes do início da sessão ordinária da Câmara, na última segunda-feira, 22, o interventor da Santa Casa de Misericórdia de Capivari, padre Adalton Demarchi, apresentou um diagnóstico do hospital. Há 30 dias no comando da nova diretoria que gere a instituição, o sacerdote relatou as ações emergências, as dificuldades e os resultados obtidos.
O interventor esteve acompanhado do prefeito Rodrigo Proença, do vice Vitor Riccomini, da secretária de Saúde, Eliane Piai, do administrador hospitalar, Jaques Azevedo, do médico responsável, Nael Jamil Hwas e do membro que compõe o grupo gestor, Caetano Santis Junior.

Dívidas
Segundo o interventor, no ato da posse, no dia 21 de janeiro de 2016, a nova diretoria recebeu do setor administrativo da Santa Casa, uma planilha que mostrava uma dívida de R$ 454.022,43 até aquela data, referente exclusivamente a pagamentos abertos no mês de janeiro, e ainda outros R$ 33 mil, referente a férias assinadas do mês de dezembro de 2015, que não tinham sido depositadas nas contas dos funcionários.
A entidade se encontrava em débito também com a empresa prestadora do serviço de segurança privada – novembro e dezembro. A primeira parcela do parcelamento com a Receita Federal, firmado no mês de novembro de 2015 e com vencimento para dezembro, não foi paga. No mês de dezembro, o hospital não quitou o compromisso com a empresa responsável pelo Pronto Socorro. “E vale ressaltar que as verbas municipais estavam sendo depositadas em dia, de forma que no dia 21, quando assumimos a maior parte das verbas daquele mês, já tinham sido depositadas”, afirma Demarchi.
O valor real da dívida da Santa Casa, escriturado contabilmente até o dia 21 de janeiro de 2016, é de R$ 7.789.597,67. O padre lembra que esses valores estão sem as atualizações monetárias. “Escriturado na contabilidade temos uma dívida com a CPFL Paulista no valor de R$ 689 mil. Ela nos procurou para renegociar, mas com as multas e juros a dívida já passa de R$ 1,6 milhão”, explica.

Pronto Socorro
A nova diretoria identificou que duas empresas estavam contratadas e prestando o mesmo serviço com os mesmos profissionais, através de dois contratos vigentes. “Nós renegociamos com os dois responsáveis das duas empresas e optamos por encerrar os dois contratos”, conta o padre, que garantiu que a Santa Casa não foi lesada.
Segundo Demarchi, foi contratada outra empresa, a Naja, que assumiu a prestação dos serviços no atendimento do Pronto Socorro e também das especialidades médicas.

Especialidades
Boa parte das especialidades médicas da Santa Casa estavam suspensas e foram reestabelecidas pela nova diretoria. “É lógico que até que nós possamos atender normalmente, isso leva um tempo porque existe uma demanda reprimida. Do dia 21 de janeiro até o dia 18 de fevereiro já foram realizadas 13 cirurgias gerais e 11 cirurgias ortopédicas. A ortopedia voltou a funcionar normalmente”, explica padre Adalton.
Segundo ele, está marcado para este fim de semana, um mutirão que atenderá aproximadamente 40 pessoas, algumas delas, há 90 dias aguardando um retorno para ser atendida pela Santa Casa. O interventor disse que essas avaliações clínicas vão dar os encaminhamentos necessários, seja de alta ou de encaminhamento para um momento cirúrgico apropriado. “Com isso, o centro cirúrgico volta a funcionar plenamente e o nosso esforço foi de manter tudo em funcionamento, medicamentos e tudo mais, em perfeito estado”, garante.
A empresa Naja atende o plantão do Pronto Socorro com dois médicos, que também visitam os leitos. Cinco especialidades voltaram a ser oferecidas na Santa Casa: Ortopedia, Ginecologia Obstetrícia, Anestesiologia, Cirurgia Geral, Clínica Médica e Pediatria. A equipe trabalha também com o plantão à distância, onde em casos urgentes, os médicos têm de 20 a 30 minutos para estar presente no hospital.
Segundo o interventor, há ainda a necessidade de especialidades nas áreas de Neurologia, Cardiologia, Plástica, Dermatologia, Otorrino e Colonoscopia, o que aumentaria o custo mensal em R$ 250 mil. “Nestes casos, onde não temos especialistas, encaminhamos para a central de vagas da regional, onde os pacientes são atendidos em Piracicaba.

Sem crédito
Devido a exorbitante dívida acumulada, a Santa Casa não tem crédito no mercado, o que obriga a instituição a fazer pagamentos antecipados para compra de medicação e reposição na farmácia. “Na quarta-feira, o setor de farmácia passa as emergências, nós providenciamos a compra, efetuamos o pagamento na quinta-feira e na sexta-feira a farmácia é recomposta”, conta Demarchi.
Ele explica que em casos de última hora, como, por exemplo, uma cirurgia de prótese ou coisa parecida, que é específica, a Santa Casa depende de providência imediata. “Mas, isso é uma coisa que não é só em Capivari, qualquer outro hospital segue o mesmo procedimento.”

Funcionários
“No ato da nossa posse, em reunião com todos os funcionários fizemos questão de mostrar que o nosso papel ali era proporcionar um atendimento adequado. Não fomos buscar cabeça de ninguém, não fomos atrás de fazer qualquer tipo de retaliação ou nenhum tipo de procedimento que pudesse gerar expectativas negativas, pelo contrário, queríamos honrar e valorizar aqueles funcionários que lá estavam”, frisou o padre.
Segundo ele, até hoje, foram feitas apenas três demissões pontuais, em casos em que os funcionários não estavam correspondendo a prestação mínima do serviço a que estavam designados. Na área de enfermagem, foram realizadas contratações pontuais, já que um funcionário faleceu e outros três pediram demissão.

Pagamentos
Com relação aos pagamentos dos funcionários, o padre Adalton Demarchi afirmou que no mês de janeiro, foram honrados todos os compromissos na data correta, 5 de fevereiro. “Todas as contribuições foram recolhidas, inclusive imposto de renda, INSS e fundo de garantia, que estavam em aberto por um longo tempo”, informou.
O interventor disse que passados seis meses da convenção coletiva, a Santa Casa não havia readequado os salários dos funcionários, o que gerou mensalmente uma diferença de R$ 25 no salário dos auxiliares de enfermagem e de R$ 110 nos subsídios dos enfermeiros. “Isso dá um valor exagerado que não temos como quitar de imediato. Encaminhamos ao sindicato uma proposta para que isso seja parcelado nos próximos pagamentos, mas, o mês de janeiro já foi pago de acordo com o novo piso e de acordo com a regulamentação sindical. Agora, estamos pedindo ao sindicato para que analise a proposta, para recompormos esse atrasado em 5 ou 6 parcelas”, explica Demarchi.

Equipamentos
A nova diretoria identificou uma situação de vulnerabilidade em relação aos equipamentos da Santa Casa. Segundo o interventor, o tomógrafo está em funcionamento há mais de 15 anos e tem uma qualidade muito precária de imagens, além dos recursos insuficientes. Já os equipamentos para exame de mamografia estão paralisados há mais de seis meses e por serem obsoletos, não tem como consertar. “Equipamentos para exames gástricos, são antigos, a base de contraste e não podemos efetuar as pequenas cirurgias como os equipamentos modernos, inclusive para provocar um bem-estar para o paciente”, conta.

Processos
O acompanhamento jurídico da Santa Casa passou a ser feito pelo advogado Leandro Scuziatto, que assumiu junto com a nova gestão e está prestando todo serviço de assessoramento e acompanhando das negociações trabalhistas. “Que são muitas”, frisa padre Adalton. Segundo ele, na última semana, a entidade foi condenada a pagar R$ 137 mil, fruto de uma ação trabalhista de apenas um funcionário e outra ação cível tramita na justiça, pedindo o ressarcimento e indenização por erro médico a um paciente, no valor de R$ 600 mil.
Demarchi revelou que, só na conta no Banco do Brasil, constam 482 ocorrências de restrição. “Estamos passando por um processo muito difícil neste sentido, porque todo dinheiro que passa a noite na conta é bloqueado pela justiça. Temos feito todo um trabalho de receber, fazer os pagamentos do dia e no final do dia fazemos um bloqueio interno, com um cheque administrativo, onde esse dinheiro fica guardado nas nossas mãos para o outro dia, porque se ficar na conta, automaticamente é sugado pela justiça em função dos processos atrasados”, explica.
O interventor se mostrou perplexo perante a muitos processos que faltam apenas duas ou três parcelas para serem quitadas e não foram, e disse também estar surpreso com o número de novas ações fiscais e trabalhistas que tem sido apresentadas.

Déficit
Em relação ao fechamento mensal da Santa Casa, passado o primeiro mês, para fevereiro e março, as despesas pagas e devidamente comprovadas foram estimadas em R$ 1.227.168,00. A entidade recebe hoje duas subvenções de gestão plena, uma no valor de de R$ 217.897,68 (todo dia 5), e outra de R$ 109.093,65 (todo dia 20). A Prefeitura de Capivari repassa R$ 304.252,89, referente ao atendimento no Pronto Socorro. “Esse valor, do jeito que a gente recebe já repassa para a empresa que presta o serviço do Pronto Socorro e as visitas. Desse valor ainda temos que investir o valor dos funcionários do PS, enfermeiros e outros”, explica Demarchi.
A entidade ainda recebe uma subvenção municipal de R$ 200 mil até o mês de março, depois este valor cai para R$ 120 mil. Segundo a direção, é arrecadado em média, R$ 87.400 com o projeto Irmão Amigo, cerca de R$ 6.800 com doações e R$ 3 mil com locações.
Hoje, a Santa Casa recebe R$ 928 mil por mês, Este valor vai diminuir para R$ 848.544,22 a partir de abril. Com isso, a entidade acumula um déficit mensal de aproximadamente R$ 250 mil.
Segundo padre Adalton, a situação poderia ser amenizada se as prefeituras de Rafard, Mombuca e Elias Fausto, que utilizam dos atendimentos do Pronto Socorro da Santa Casa, efetuassem os devidos repasses. “O único caminho para superar o déficit é o de partilharmos daqueles que usam do serviço e não tem colaborado. Vamos ter que fazer um entendimento com Mombuca, Rafard e Elias Fausto para rebatermos esse déficit”, explica.
Segundo a nova diretoria, a Santa Casa tem uma estrutura capaz de atender muito mais pessoas do que atende hoje. “Se prestarmos um serviço com qualidade e adequado, o número vai aumentando e temos como pleitear aumento dos repasses e verbas com o governo. Com isso, a gente sana o déficit”, calcula o sacerdote.
Demarchi explica que o centro cirúrgico está em funcionamento e não recebe repasse porque estava fechado, bem como a especialidade ortopédica, que foi descredenciada há 3 meses e deixou de receber verbas. “Estamos voltando a atender como forma de voltarmos a ter esta credibilidade. Parece estranho, mas a forma para se evitar essa situação é exatamente mais serviço”, conclui.

Atendimentos
Até o dia 18 de janeiro, 4.556 pacientes foram atendidos no pronto socorro e ambulatório, totalizando 130 internações. Destes atendimentos, 3.035 são pacientes de Capivari, que ocuparam 93 internações. Os 403 atendimentos e 37 internações restantes são de pacientes de outras cidades.

CND
O departamento jurídico da Santa Casa está tentando via judicial, o fornecimento da Certidão Positiva com Efeito Negativo de Débitos (CND) junto à receita. A CND é necessária para que a entidade possa gozar das possibilidades de renegociação, recebimento de verbas e o principal, a participação no ProSUS. “Ao longo de 15 anos, a Santa Casa não teria mais dívidas com a previdência, isso se não houverem mais atrasos”, deduz o interventor.

Auditoria
Uma empresa de São Paulo está realizando a auditoria oficial das contas da Santa Casa, que é uma exigência estatutária. Segundo padre Adalton, a contabilidade de 2015 não fez o registro contábil de nenhum lançamento. “Estamos lutando contra o tempo para fechar os balanços no prazo fiscal para fazer a escrituração”, ressalta.

Intervenção
A intervenção pedida pela Prefeitura de Capivari e concedida pela Justiça é pelo prazo de um ano e prorrogável por mais um. Demarchi explicou que a situação pode ser transformada ou mudada de acordo com o entendimento jurídico. Tudo o que precisa de esclarecimento está sendo feito de forma judicial junto a promotoria pública.

UTI
Sobre a reabertura da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), padre Adalton foi categórico em afirmar que não adianta manter um serviço pelo simples fato de falar que tem uma UTI. Ele explica que sem o centro cirúrgico funcionando e as outras atividades, é inviável, porque os leitos entrariam na central de vagas e a cidade corre o risco de manter a UTI ocupada o tempo todo, com pessoas que vem de outras cidades. “Os nossos pacientes correriam o risco de ficar sem vaga na própria cidade e ser encaminhado para outros hospitais”, alerta.
Apesar da declaração, o interventor disse que a partir do momento que a Santa Casa regularizar o uso do centro cirúrgico e as cirurgias, é um processo quase que concomitante que a UTI seja reaberta, em função da estabilização daqueles que passam por cirurgias no local. “Hoje as mais simples são feitas com tranquilidade. Havendo as cirurgias mais amplas, é natural que a UTI seja reaberta e uma ou outra vaga entraria para a central de vagas. Porém, hoje, é inviável”, frisa o padre.
O hospital, segundo Demarchi, tem estrutura para reabrir a UTI e os equipamentos essenciais. São 61 leitos, 46 destinados ao SUS e 15 para outros atendimentos. “A intenção é chegar a 89 leitos”, projeta.

Questionamentos
Após a apresentação do relatório, o padre Adalton Demarchi respondeu a alguns questionamentos dos vereadores. Um deles, sobre a tomada de um empréstimo da antiga diretoria junto a Unicred, no valor de R$ 450 mil, para a compra de um tomógrafo, que, apesar de não entrar em detalhes, deu a entender que o equipamento não está no hospital. Segundo o interventor, o caso já é investigado pela Justiça.
Sobre o questionamento de que médicos estariam recebendo um valor maior do que o praticado no mercado, Demarchi se limitou a afirmar que não compete a ele ficar levantado cada situação, porque se trata de uma intervenção. “Os auditores estão fazendo isso. Hoje, fizemos um contrato onde equipara-se com o mercado. O que existia antes, a auditoria está fazendo a ponte diretamente com o Ministério Público”, finalizou.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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