Vivi outrora numa terra,
longe destas gândaras más,
sonhando alegre com a guerra
no seio doce e bom da paz…
Era mui pobre a minha tenda,
mas tão risonha, tão feliz,
que a passarada fez vivenda
no mesmo ponto, em que eu a fiz.
Mas eis que num dia me apareces,
no donaire do corpo em flor,
qual uma santa, que pede preces:
dei-te orações cheias de amor.
Segui-te. Errei por longes terras,
fui o teu pajem mais fiel,
por ti lidei cruentas guerras,
por ti me fiz de menestrel.
De rubras chagas sanguinosas,
sorrindo, todo me cobri,
como herói coberto de rosas,
que glorioso e forte sorri.
Até que, um dia, me fugiste,
Bênção do Céu, divino Dom!
Fique qual quem, absorto e triste,
acorda em meio a um sonho bom…
E hoje, vagando sem vivenda,
sou como um pobre rei exul,
procuro embalde a minha tenda,
a minha flórea tenda azul…