Capivari

“Recuerdos” – Guedes toca tárrega

Acaba de ser lançado, em rede nacional, o CD “Recuerdos – Guedes toca Tárrega”, compact disc – digital áudio, Produção Executiva da Mecenaria Produção Cultural, Selo Musical Maru, Produção Artística de Fábio Zanon, Ricardo Marui e Amadeo Rosa, do mestre do violão Antonio Guedes.
Capivariano de nascimento, jundiaiense de adoção, recebe, o professor violonista, o Prêmio Estímulo de Cultura, da Prefeitura Municipal de Jundiaí, pela, não só edição desta obra, mas pelo que ele representa na arte musical.
Há seis décadas, precisamente, o mestre Antonio Guedes se dedica ao estudo musical, num sistemático e metódico exercício, não de contemplação à música ou ao instrumento que abraçou, mas no dia-a-dia, como forma de aperfeiçoar-se cada vez mais.
Estudos de compositores, principalmente os ligados ao violão, bem como o dedilhar constante das cordas do “pinho”, Antonio Guedes nos surpreende pela sua fascinante fala e conhecimento da arte musical e, o que lhe é mais peculiar, a divisão desse conhecimento com os seus alunos, amigos e admiradores.
Sem necessitar de epinícios ou mesmo de maiores e mais largos encômios, como diriam os antigos jornalistas e redatores da imprensa de então e nem seria o escopo deste articulista, em razão de parentesco de sangue, o mestre Antonio Guedes pontifica a sua lide pela forma mais brilhante possível, buscando a interpretação dos eruditos, em sua essência e com a alma, aja visto o seu curriculum invejável:
Na mocidade, já em São Paulo, em fins da década de 50, como ferramenteiro da então montadora Willys Overland (hoje, “Ford”), buscou o conhecimento da interpretação musical e aprendizado do violão, pelas mãos do balizado professor uruguaio Isaías Sávio, compartilhando os fecundos ensinamentos com mais alunos: Henrique Pinto (com quem estudou posteriomente), Barbosa Lima, Ademar Petri, Antonio Carlos Sarno, Paulo Belinati, Paulo Porto Alegre, Eraldo Pinheiro dos Santos, Marco Pereira e mais uma centena de mestres que estão por ai afora, pois o mestre Isaías Sávio , criou a cadeira do violão no Brasil.
Remonta, daquela época, o amor pelo música, crivado desde aos 11 anos, através do seu pai que foi um dos componentes do “Conjunto da Saudade”, na pequena e opulenta Capivari.
Conciliar o trabalho de metalúrgico com o da arte musical foi um enorme desafio, sabendo que o violão é um instrumento ingrato – no dizer de especialistas. Ele exige, de seu executor, um compromisso diário, numa firme concentração e mãos e dedos em estado de graça. Qualquer dificuldade de um corte, tão comum para os artistas e profissionais, como para todos em geral, sempre é motivo de preocupação de desempenho real.
No início da década de 60, em Campinas no Conservatório Carlos Gomes, vence o concurso de “Melhor Violonista do Estado de São Paulo”, ao interpretar, de Francisco Tárrega (1852-1909), o sonoro e profundamente tocante, “Recuerdos de la Alhambra”.
De lá para cá, exerce, em Jundiaí, o mister do ensino de violão, criando uma plêiade de entusiastas, entre os quais Fábio Zanon e Luiz Mantovani Jr. – dos expoentes do violão, em termos que vão além das fronteiras brasileiras. Só do Zanon – sobejamente temos conhecimento – venceu, simultaneamente, dois concursos internacionais: da Espanha e dos Estados Unidos, honra e mérito de dedicação plena e orientação dos fundamentos do violão do mestre Antonio Guedes.
Para que pudesse, ainda mais, aperfeiçoar-se nesse instrumento, em execuções aprimoradas, fincou-se nos estudos dos grandes compositores e intérpretes no violão, entre os quais Gaspar Sanz, Fernando Sor, Augustín Barrios, Isaac Albéniz, Manoel de Falla, Henrique Granados, Joaquim Rodrigo, Andrés Segovia, John Williams e Paco de Luccia. Estes todos, sem contar, como necessidade de crédito e de talento, os grandes nacionais: Paulinho Nogueira, Raphael Rabelo, Canhoto, Yamandu Costa, Anibal Sardinha, Américo Jacomino, Francisco Araújo, Fábio Zanon, Luiz Mantovani Jr, Duo Abreu (Sergio e Eduardo), Marcelo Kayat, Duo Assad (irmãos Sérgio e Odair), João Pernambucano Jodacil Damaceno, Paulo Belinati, os irmãos Gloeden, Henrique Pinto, Paulo Porto Alegre, A. Penese, Sergio Beluco, Edson Lopes, Ângela Muner, Milton Nunes, Toquinho, Pedro Cameron, Geraldo Ribeiro, e tantos outros mais que ilustram a nossa “História do Violão”.
Contudo, espelhou-se, sempre, na figura ímpar de Francisco Tárrega que, como ele próprio define, é completo em tudo, em termos de composição e execução clássica do violão. A passagem de sua vida, aos 12 anos de idade, é bom rememorar, foi quando o maestro José Favoto, de Capivari, lhe mostrou uma foto de Tárrega, dizendo: “Este foi o maior professor e violonista que o mundo já teve”. Isto marcou-lhe uma vida de busca missionária: ser obreiro do violão, por toda a vida.
Mas, para, aqui, tão somente falar do CD “Recuerdos – Guedes toca Tárrega”, é de bom tom examinar e ouvir, atentamente, a escolha providencial e o inadiável compromisso do Antonio Guedes com a interpretação do que foi produzido por Tárrega: Capricho Árabe, Recuerdos de la Alhambra, Pavana, Adelita!, Lágrima, Maria, Alborada, Danza Mora, Prelúdio em Lá, Prelúdio em Ré, Endecha, Rosita, Marieta”, Vals, El Columpio e Sueño!. Destaca-se, nesta primorosa obra em CD, as interpretações de Recuerdos de la Alhambra e Vals.
A biografia do Antonio Guedes se estende pela sua força de vontade, capacidade de aprendizado e dedicação desmedida, o que lhe rende maiores elogios da crítica, sempre seleta ao falar ou comentar sobre determinado artista. Tão claro é, e evidente, que Antonio Guedes, além de ser um mestre do violão, tornou-se tão apaixonado pela arte musical desse instrumento, que passou, como sois saber, a construir o seu pequeno “pedestal” onde se posiciona para o concerto e exibição, bem como tornou-se um verdadeiro “luthier”, que é uma outra estória.
O que nos propomos, neste pequeno artigo, é evidenciar o trabalho de estreia que, pela forma, feitio e interpretação, nos aprofunda e nos embala a alma para o compromisso de recordar Francisco Tárrega. É, na essência, em termos amplos, o propósito do mestre do violão Antonio Guedes.
Acima de tudo, o mestre e intérprete de Tárrega, de há mais de seis décadas, por certo, contribui pela causa da música e, em particular, pela memória do violão em nosso país, digno de citação em enciclopédias, estudos e ensaios neste sentido.
Com a percepção de um lídimo representante da classe violonista no Brasil, Antonio Guedes se nos apresenta, neste memorável lançamento de CD, com rara beleza, interpretação e arte musical. Por certo, encontrará guarida, vez que nem sempre temos o privilégio de tal empreendimento cultural, mormente a da música clássica ao violão.
Onde encontrar o CD “Recuedos – Guedes toca Tárrega”: os CDs. podem ser encontrados na Livraria Cultura-SP.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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