Rubinho de Souza

A casa abandonada

Quando, em minhas costumeiras caminhadas matinais, percorro as ruas de minha cidade, fico a observar algumas casas velhas, sozinhas, abandonadas, passo então a meditar, como outrora foram elas tão cheias de energia, simbolismo e vida.

Suas janelas de vidros quebrados, guardam olhares de saudades, pelas horas e dias de espera, na esperança de alguém bater na porta, hoje emperrada por não ter mais aquele amado, que ao transpô-la, provoque sorrisos, abraços e beijos pela chegada!

Quantos almoços, cafés e reuniões de confraternização!

A tradicional macarronada, típica dos domingos com a família, onde na mesa enorme, ao menos três gerações se assentavam, quando os avós tinham a primazia no servir, depois os pais e por fim os filhos menores.

Ao mirar aquela casa, parece-me ouvir o ambiente ruidoso pelas conversas dos mais velhos, falando em tom de voz alto para se fazer ouvir, pois todos queriam falar ao mesmo tempo e colocar em dia todos os acontecimentos da semana.

A casa abandonada
A casa abandonada

Mas, o tempo, implacável como só ele, aos poucos foi levando, primeiramente os mais velhos e depois outros até que não restou mais ninguém que dispusesse a preservar e cuidar daquele palco de muitos dias felizes, de muitas despedidas em lágrimas e abraços de saudades daqueles que foram aos poucos partindo para o descanso.

Difícil acreditar que nessas casas, pessoas nasceram, viveram e morreram. Testemunharam dias inesquecíveis, de namoros, noivados, casamentos, nascimentos, aniversários, reuniões em tardes frias ao cheiro do café fresco e dos bolinhos de chuva fritos pela nona.

Casas onde tantas pessoas celebraram a vida e depositaram suas esperanças que mesmo abandonadas, parece que nelas ainda permanece o bater dos corações dos que nela viveram, refletindo aos que por ela passam, como um espelho, a paixão pela vida daqueles que nela habitaram.

Mas, agora, são apenas a sombra do tempo que passou, cujas lembranças teimam em não nos abandonar, tal e qual aquele perfume bom que mesmo após o banho, ainda sentimos seu cheiro, ainda que indelevelmente, assim também são as lembranças boas que ficam impregnadas em nossa memória para sempre…logo do fundo do baú raffard

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