ArtigosRubinho de Souza

Ah! Que doce era a vida!

Dia desses, bateu aquela saudade e voltei aos lugares onde vivi a minha infância, de quando um “arquinho” e um pneu de bicicleta era meu veículo, como era para todos os meninos com as cabecinhas povoadas de sonhos e fantasias de criança.

Percorri uma a uma as ruas onde costumava brincar, e constatei todas elas vazias…

Vazias de pessoas com calor humano, vazias de risadas de moleques sonhadores, de cativantes de vozes conhecidas.

Meu coração começou a bater forte pela tristeza que as recordações me trouxeram, ao lembrar o quanto tudo era animado e alegre no meu bairro, nas casas de meus amigos e vizinhos.

Fui até onde era a linha férrea. Olhei, onde era cabine que o João Guarda ficava a sinalizar a passagem do comboio e tristemente vi que nada existe mais!

Fui ver o pé de lila, onde passarinhos pousavam para cantar, mas ela foi cortada, corri aos pés de frutas que tinha no terreno onde a meninada brincava, mas encontrei tudo seco, sem folhas sem vida… o pomar de laranjeiras também não existe mais, pela terra árida e seca e falta d’água nas suas entranhas.

Ah! Que doce era a vida!
Ah! Que doce era a vida!

A calçada que era de tijolos vermelhos, tão bem cuidada pelos moradores, hoje cheia de pedras soltas, porque a pegada humana deixou seu rastro pelo caminho e as ervas daninhas tomaram conta como se agora fosse sua casa.

O poço de água fresca que tanto nos serviu para matar nossa sede e fome, pois dali saia toda a água usada em nossa casa, desmoronou pela ação do tempo e do homem.

O córrego, onde os meninos “mariscavam” de onde tirei muitos lambaris para levar para casa, onde minha mãe fazia no almoço, hoje poluído, agoniza, parecendo estar próximo seu fim.

Para onde meus olhos corria, tudo era desolação, parecia que as teias do esquecimento, queriam cobrir tudo aquilo que foi meu reino encantado. Somente a minha memória é que podia dar vida a tudo aquilo, através de doces lembranças da minha infância.

Voltei para casa triste, por ver como tudo foi destruído e o que sobrou não tem sido cuidado. Mas ao mesmo tempo me alegrei por ter o privilégio de ser da geração mais feliz, que valorizou as coisas não pelo seu preço, mas pelo valor que possuem.

Minhas memórias eram tão nítidas que consegui viver de novo, tudo aquilo que um dia me trouxe alegria, e, esqueci que o passado levou tudo embora como num buraco negro.

Às vezes, é melhor não revolver o passado, mas deixar-se estar num lugar aconchegante, fechar os olhos e viajar pelas asas das doces lembranças, ao invés de querer olhar para trás e voltar aos lugares onde passamos dias felizes. Aprendi que para não sofrer, devemos embrulhar o passado numa caixinha mágica da memória e guardar a chave no coração.logo do fundo do baú raffard

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