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Antigas searas

Não sai de mim a infância estreita e dolorida
meus sonhos e pesadelos das noites sombrias
os pés descalços, os espinhos de ferir almas
das longas tardes frias, solitárias e vazias
o caminho para escola, os trilhos surrados
ladeados de guaxumas, capins e joás bravos
a escolinha, a quilômetros e quilômetros distante
a professora pedante, exigente e humor oscilante
ensinando as tabuadas, os costumes dos brasilíndios
e as primeiras palavras e lições do bê-a-bá.
As roupas tingidas, remendadas e disfarçadas
que mamãe fazia com tanto esforço e carinho,
à luz de lamparinas e aromas de querosenes.
Não me sai da memória, os natais incolores, pobres e sem flores
do inútil, quimérico e cruel papai noel,
aquele infeliz, que jamais nos visitara;
não me sai da lembrança, a longínqua esperança
renascida das cinzas fumarentas, recobrindo os olhos
dos fieis vassalos que cortavam os canaviais,
às vezes tediosos, distraídos e cansados,
nos abomináveis sóis de trincar catedrais.
Abriam veredas, roçavam as capoeiras,
formavam as coivaras, em grandes leiras
e as queimavam para os plantios primários e arcaicos,
do milho, do arroz e do feijão, a germinarem nas chuvas de verão.
Ainda sinto os cabos lisos das enxadas
a capinarem bem rente, as plantas invasoras
com as mãos ásperas, duras e calejadas
separando os trastes joios de nossas lavouras…

Dario Bicudo Piai, engenheiro e perito judicial
Dario Bicudo Piai, engenheiro e perito judicial

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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