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Cidades não repassam valor combinado, diz diretor da Santa Casa

22/04/2014

Cidades não repassam valor combinado, diz diretor da Santa Casa

Em entrevista ao jornal O Semanário na Rádio R, Antonelli garante que a UTI será reaberta em julho deste ano
Presidente da Santa Casa de Capivari, Éder Antonelli, durante entrevista na Rádio R FM, em Rafard (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

CAPIVARI – A Santa Casa sobrevive hoje aos trancos e barrancos com uma dívida de R$ 18 milhões. Como se não bastasse, a dificuldade de quitar a dívida faz com que ela aumente R$ 300 mil a cada mês. “É muito difícil tocar uma empresa com esse déficit. Acho que quando aceitei o convite [de assumir a Santa Casa] eu estava meio insano, porque é complicado demais”, desabafa o presidente Éder Antonelli.

A saída é que pelo menos metade desse débito seja perdoada pelo Governo Federal. A oportunidade surgiu com a regulamentação, na primeira semana de abril, do programa de apoio financeiro às entidades privadas filantrópicas de saúde e entidades de saúde sem fins lucrativos, a Forma Complementar do Sistema Único de Saúde (ProSUS). A partir do último dia 9, as Santas Casas têm três meses para solicitarem adesão ao programa.

Os R$ 6 milhões, segundo Antonelli, em entrevista ao jornal O Semanário durante o programa Jornal da R, na Rádio R FM, referem-se a impostos no âmbito da Receita Federal, do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e ao Fundo de Garantia de funcionários demitidos. Somente de Fundo de Garantia, o valor gira em torno de R$ 1 milhão, cujo parcelamento está sendo negociado com a Caixa Econômica Federal e poderá ser acertado em 180 parcelas.

Assim, cada mês que os impostos são pagos em dia, explica, “abate uma [parcela] no final”. No entanto, o ProSUS funciona como um sistema de contrapartida. Para que as dívidas sejam quitadas, as entidades devem aumentar o número de leitos e o atendimento aos usuários do SUS em até 15 anos.

A soma do valor total equivale, ainda, a dois processos de médicos “do passado”, aproximadamente R$ 6 milhões. Além disso, a entidade possui dívidas com fornecedores, os quais estão sendo chamados um a um para que os pagamentos também possam ser parcelados. Para Antonelli, “essa é a forma de manter a Santa Casa de portas abertas”.

O balanço, que será publicado em maio, segundo o presidente, revela que o custo mensal da Santa Casa de Misericórdia de Capivari é de R$ 1.202.000. Para cobrir os juros mensais, a Prefeitura Municipal, por meio da Lei nº 040/2014, repassa, até o mês de agosto, R$ 300 mil por mês, além da subvenção mensal de R$ 50 mil que é enviada desde o início do ano. “Com isso, a gente começa a respirar e a planejar as quitações”, comenta. Por outro lado, a decisão fez com que o Poder Executivo desistisse da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), prédio concedido pelo Governo Federal e que seria mantido com recursos próprios no valor de R$ 650 mil por mês.

Segundo Antonelli, o repasse faz com que o hospital consiga acumular R$ 1 milhão todos os meses para cobrir os gastos. Porém, falta suprir R$ 202 mil, que dão origem aos juros. Esse valor poderia ser pago mediante auxílio das outras três cidades – Rafard, Mombuca e Elias Fausto – que utilizam o sistema público de saúde de Capivari. Contudo, de acordo com ele, “desde janeiro não cai um centavo destes municípios em nossa conta”.

“Nós atendemos a todos, mesmo com o não pagamento. Tenho fé e esperança que os prefeitos vão se sensibilizar e nos ajudarão. Estamos de portas abertas para todos e para tirar qualquer dúvida, de prefeitos a cidadãos. Não temos nada a esconder”, diz o presidente. Otimista, afirma que a situação está melhor a cada dia e melhorará ainda mais.

“Nosso mandato vai até o final do ano. Entramos como tampão do Jorge Elias, que entrou como tampão do Pascoal. Então, para dar os três anos, ficaremos até 31 de dezembro”, lembra. “Assumimos o hospital em início de greve, com todos os salários atrasados, desde as meninas do apoio até os médicos. Hoje, os funcionários estão registrados, com salário, décimo terceiro e cesta básica em dia”, ressalta Antonelli.

O mesmo não acontece com os médicos. “Eu disse a eles que é como uma poupança. Vai estar lá guardada e, na hora oportuna, faremos o parcelamento de todos. Assumimos um compromisso de pagá-los em dia e estamos fazendo isso”, acrescenta. De acordo com o administrador, vários funcionários precisaram ser demitidos para conter gastos. “A folha de pagamento estava muito inchada”, alega. Com isso, houve uma redução de 236 para 171 profissionais.

A Santa Casa não tem crédito na praça. Para continuar “tocando” o hospital, conta Antonelli, as compras de medicamentos e oxigênio, por exemplo, são feitas à vista. Dessa maneira, os fornecedores descontam em torno de 20% do valor para que este seja abatido na dívida que ficou para trás, de gestores anteriores.

“Para se ter uma ideia, tínhamos uma dívida de R$ 90 mil com a Indústria Brasileira de Gases (IBG), que fornece oxigênio. Hoje, está em R$ 16 mil. O contrato vence em julho e eles já querem renovar. Nós pagamos R$ 4,75 o metro cúbico do oxigênio. Mais quatro meses e quitaremos o que falta. Com isso, continuaremos comprando à vista, mas teremos ‘bala na agulha’ para negociarmos um valor melhor”, exemplifica.

O Pronto Socorro da Santa Casa tem custo mensal de R$ 330 mil. De acordo com o presidente, no ano passado a unidade atendeu 62 mil pessoas, média de 5.106 atendimentos por mês. Em janeiro de 2014, foram registrados 4.776 atendimentos. No mês de fevereiro, os pacientes atendidos foram 4.409. Em março, 5.627 pessoas deram entrada no hospital.

Quanto à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), fechada desde março de 2011, Éder Antonelli promete: será reaberta em julho deste ano. Mote de campanha dos políticos que passam pela administração da cidade, a UTI tem custo mensal estimado em R$ 300 mil, cujo valor deve vir do SUS (R$ 80 mil), de Capivari (R$ 25 mil), de Rafard (R$ 10 mil), de Mombuca (R$ 10 mil), de Elias Fausto (R$ 10 mil) e de Piracicaba (R$ 150 mil).

Esta última terá direito a três ou quatro leitos do total de sete, mas após a reabertura serão solicitados mais três leitos, a fim de completar dez. “Isso porque a estrutura será a mesma. O valor contratado dos médicos é o mesmo de sete a dez leitos”, explica o administrador. Entretanto, até hoje somente Rafard enviou duas parcelas – novembro e dezembro – referentes à UTI. “Fora isso, não veio mais nada”.

A quantidade assustadora de dívidas invalida a Certidão Negativa de Débitos (CND) da entidade. Sem ela, as verbas solicitadas pelo Poder Legislativo não podem ser recebidas, a exemplo do ocorrido com os valores conseguidos pelos vereadores Edson Bombonatti (PROS), Flávio Carvalho (PSDB) e Gillys Scrocca (PTB). Juntas, as emendas parlamentares somam R$ 1.200.000.

O vereador Bruno Barnabé (PPS), por sua vez, solicitou R$ 500 mil para a compra de aparelhos de raio-x e ultrassonografia, compressor para oxigênio e outros equipamentos. Nesse caso, a verba foi enviada à prefeitura e destinada, posteriormente, à Santa Casa. De acordo com Antonelli, o processo está em fase de licitação. “Acredito que em maio os aparelhos já serão entregues”, prevê.

Ele garante marcar presença no hospital diariamente das 11h às 13h. Segundo o presidente, o controle de horas dos funcionários era realizado mediante cartão de ponto. Atualmente, o sistema é biométrico. Questionado sobre o atraso dos médicos do Pronto Socorro, afirma que as reclamações diminuíram consideravelmente. “Eles fazem turno de 12h em 12h. Enquanto o que deve entrar no período noturno não chega, o outro não pode sair do atendimento. Isso está no contrato e é fiscalizado pela coordenadora do PS na troca dos plantões.”

Todos os investimentos e melhorias da Santa Casa de Capivari são feitos com ajuda da população, por meio da Central de Doações, implantada pela gestão atual. Em abril, as doações chegaram à marca dos R$ 10 mil. O projeto “Irmão Amigo” também auxilia nos gastos. Com doações individuais ou familiares, o projeto funciona como uma espécie de plano, no qual os pacientes recebem uma série de benefícios em troca da contribuição mensal.

Outra maneira de faturar é a parceria com a Amhpla, que consiste na internação de pacientes do ambulatório dentro da Santa Casa. Por mês, essa parceria rende em torno de R$ 20 mil. Poderia ser ainda melhor, frisa Antonelli, mas falta estrutura. “O que fica para nós são as cesárias. As cirurgias de videolaparoscopia, que só fazem quatro furinhos no paciente, são levadas para Piracicaba, porque lá tem estrutura”.

“Nós também atendemos Vera Cruz, Unimed Capivari, Bradesco Seguro. Acidentes que acontecem em nossas rodovias o Corpo de Bombeiros e a Rodovias do Tietê mandam pra gente”, acrescenta. Ele conta que a concessionária descarta o lixo hospitalar (sem pedir) no depósito da Santa Casa. E não paga nada por isso. O mesmo acontece com a Raízen. “Em novembro, solicitamos ajuda de custo de R$ 3 mil por mês para cada usina deles, a fim de que continuassem enviando os acidentados. Sequer tivemos retorno”, revela.

Sobre a situação encontrada pelo gestor quando assumiu a cadeira, Éder Antonelli conta que nem lugar para sentar havia. “Numa das primeiras reuniões, lembro-me muito bem, uma funcionária caiu da cadeira porque ela quebrou de tão podre que estava. O computador mais novo rodava há 15 anos. Então, fizemos um planejamento. Começamos a trocar os móveis setor por setor. Uma mesa melhor, cadeiras de rodinha, tudo dentro do padrão para evitar Lesão por Esforço Repetitivo (LER)”.

Para o administrador, o trabalho, nomeado por ele como de “formiguinha”, consiste em conscientizar com transparência e honestidade. “Temos um acolhimento fantástico que é a humanização. A pessoa passa por uma triagem, vê a pressão. Todos os atendidos no PS saem com medicação. “Você acha que ela [Santa Casa] sobrevive, então?”, questionou o locutor Chico Rebete. “Com certeza”, assumiu o presidente da Santa Casa, Éder Antonelli.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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