Artigos

Contos do Caipira: O meu Natal

Sabe, moço,
Este ano eu já estou mais contente.
Eu posso dizer que, do passado, eu não gosto nem de lembrar.
Eu, que fui um caboclo sozinho, tocando o barco devagarzinho,
E muitas vezes ali, num cantinho, eu fico lembrando um pouquinho o dia de Natal.
Lembro-me quando era criança, não me sai da lembrança, e que saudade me dá,
Quando recebia o 13º, papai ficava num desespero.
E com o dinheiro ele comprava presentinhos.
Pra nós, que éramos moleques, comprava caminhãozinho.
Pra irmã, um bonequinho. E, pra mamãe, água de cheiro.
Depois, corria na venda. Mamãe fazia a lista do que tinha que comprar.
Comprava arroz, feijão, massa de tomate, macarrão e a leitoa pra assar.
Depois de comprar comida, ainda sorria pra vida: comprava bebida pra festejar.
Uma garrafa de pinga pra ele, um vinho pra mãe e, pra nós, o guaraná.

Era tão bonito aquele tempo que nunca mais vai voltar!
Foi se acabando tudo de repente: a mamãe ficou doente e veio a faltar.
Papai então, nosso querido paizinho, via nós todos pequenininhos,
Mas tinha que se conformar. E quando chegava fim de ano, o dia de Natal,
Sempre faltava uma coisa que doía bastante na hora de almoçar…

E assim foi passando o tempo, e o Natal sem mamãe já não era mais Natal.
Passados 10 anos, coitado do papaizinho, talvez por se sentir sozinho,
Que Deus hoje o tenha num bom lugar.

Agora, a vida está muito mudada: a nossa irmã casada, Deus ajude a coitada.
Os irmãos foram se arrumando, devagarzinho foram se casando.
Estão com a vida arrumada. E eu estou contente, vocês podem acreditar.
Depois de sofrer bastante, resolvi me casar. Não vivo mais na correria.
Chega de comida fria! Comecei até a engordar!
Minha esposa é tão bacana: um dia faz doce de banana, no outro dia bolo de fubá.

Mas como eu estava dizendo, sobre o dia de Natal,
Esse ano vai ser bem diferente, eu já posso imaginar.
Já montei um presépio, fiz a árvore de Natal, até um pisca-pisca
Com bastante luzinhas pra enfeitar.
Eu já tenho uma casinha,
Uma companheira e uma filhinha pra me alegrar.
Estou contente mesmo. Se não acreditar, vai lá em casa passear.
Será bem recebido, não vá se acanhar.
Se for sertanejo igual a mim, tem viola e violão pra tocar.
Sou um caboclo divertido.
Sou amigo dos amigos e, pra completar, pra vocês todos vou desejar:
Um bom ano e um Feliz Natal!

Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo
Abrir bate-papo
Olá
Podemos ajudá-lo?