Rafard

De volta a terra natal, Pedrinho fala sobre os estudos e a vida na Noruega

Pedro Ricomini Filho nasceu em Rafard, em 16 de dezembro de 1983. Filho de Antônio Pedro Ricomini e Maria Cecília Balan Ricomini, morou na cidade até os 18 anos. Em 2003 mudou-se para Piracicaba para cursar Odontologia na Unicamp. Finalizou o curso em 2006, recebendo o título de cirurgião-dentista e deu continuidade aos estudos visando seguir área acadêmica e de pesquisa.
Possui título de mestre em Clínica Odontológica, área de Prótese Dental concedido pela FOP – Unicamp.
Atualmente o rafardense é aluno de doutorado na mesma instituição e realizou nos últimos 12 meses, estágio de doutorado no exterior (PDSE) no Instituto de Biologia Oral, na Universidade de Oslo, Noruega.
Na última semana, Pedrinho – como é carinhosamente conhecido na “Cidade Coração” – concedeu uma entrevista exclusiva e falou um pouco sobre sua vida acadêmica e profissional. O rafardense tem 7 publicações de sua autoria e já participou de 12 congressos com apresentação do seu trabalho. Confira:

Jornal O Semanário Regional – Como surgiu seu interesse pela área da odontologia?
Pedro Ricomini Filho – Sempre gostei muito de ciências biológicas, é uma área que sempre me chamou bastante atenção desde criança. Não é por acaso que Biologia sempre foi uma das disciplinas que eu mais gostava e era aprovado com as melhores notas. Durante o ensino médio eu estava certo que iria seguir carreira na área de ciências biomédicas, entretanto não tinha escolhido o curso. Nesse mesmo período minha irmã cursava faculdade de odontologia na UNESP em São José dos Campos e certamente isso influenciou bastante a minha escolha. Conversávamos bastante sobre odontologia e tive a oportunidade de vivenciar a profissão acompanhando-a durante seu curso. Fiz o exame de vestibular e fui aprovado. Então optei por cursar a faculdade de odontologia na UNICAMP em Piracicaba.

Semanário – Dentro da sua profissão, existe alguma área específica que pretende dar uma maior atenção?
Pedrinho – Sim, com certeza. Sempre gostei muito da área de reabilitação oral, seja utilizando próteses convencionais, como dentaduras e próteses parciais removíveis, ou então por próteses fixadas a implantes osseointegrados. Logo após ter finalizado a graduação em 2006, continuei os estudos na pós-graduação. Decidi fazer pós-graduação em Clínica Odontológica, na área de concentração Prótese Dental. Finalizei o mestrado em 2009 e no mesmo ano comecei o curso de doutorado, o qual é voltado para o desenvolvimento de pesquisas científicas. Finalizarei o doutorado no começo do próximo ano.

Semanário – Você já exerce a profissão em algum consultório ou hospital? Pretende passar seu conhecimento ministrando aulas ou já faz isso?
Pedrinho – Exerço a profissão dentro da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), UNICAMP. No Brasil sempre conquistei bolsa da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e alunos contemplados com bolsas devem exercer atividade exclusiva na instituição. Durante o curso de pós-graduação atendo pacientes somente dentro da faculdade. O trabalho pode ser individual, quando o paciente necessita somente de reabilitação oral com prótese, ou então em equipe, quando realizamos trabalhos mais complexos que envolvem outras especialidades, como periodontia, endodontia e cirurgia.
Aprender e transmitir conhecimento faz parte da pós-graduação. Ainda não exerço atividade como professor, mas atuo em algumas disciplinas na FOP. Tendo em vista que o curso de mestrado visa formar professores capacitados para ensinar alunos na área de odontologia, é fundamental a participação dos alunos de pós-graduação em disciplinas pré-clínica e clínica. Os pós-graduandos acompanham os alunos de graduação durante o atendimento clínico dos pacientes. Na área de Prótese Parcial Removível onde atuo, nós acompanhamos por semestre ao redor de 160 alunos, sendo que cada aluno atende no mínimo 1 paciente. Alguns alunos mais dedicados chegam a atender até 4 pacientes.
Semanário – Você fez o estágio de doutorado na Noruega. No Brasil você não encontrou essa oportunidade ou preferiu estudar fora do país pela qualificação?
Pedrinho – A opção de ir para a Noruega foi devido à impossibilidade de realizar o projeto de pesquisa no Brasil. Um dos pré-requisitos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para conceder bolsa de estágio no exterior (PDSE) é desenvolver um projeto que seja complementar a tese de doutorado e que não possa ser realizado no Brasil. É realizado um processo de seleção dos projetos que serão aprovados. Primeiramente o projeto de pesquisa foi aprovado em Piracicaba na FOP, depois em Campinas na UNICAMP e finalmente em Brasília na CAPES. No exterior trabalhei com técnicas de biologia molecular e engenharia genética. O departamento em que trabalhei, “Institutt for oral biologi”, na “Universitetet i Oslo”, conta com um parque de modernos equipamentos. A estrutura do prédio é totalmente voltada para pesquisa e técnicos auxiliam na realização de alguns trabalhos.

Semanário – Conte um pouco sobre sua vida no exterior.
Pedrinho – Morar um ano em Oslo foi uma experiência maravilhosa. Oslo é a capital da Noruega, uma cidade com pouco mais de 500 mil habitantes. A cidade chama atenção pela qualidade de vida, entretanto é considera como uma das cinco cidades mais caras do mundo para se viver. No começo é difícil se acostumar com língua, cultura e costume diferentes, mas com o tempo essa dificuldade foi superada. Apesar de a língua oficial ser norueguês, toda a população se comunica muito bem em inglês. Nunca tive problemas por causa da língua, mas mesmo assim fiz um curso básico de norueguês. Alimentação é baseada em peixes, batata e vegetais. O sistema de transporte público é excelente, conta com metrô, bondes e ônibus, além de trens conectando as cidades vizinhas. Não só em Oslo, mas em toda Noruega, é possível ver fiordes (vale em forma de “U”) e montanhas que são considerados como uma das paisagens mais bonitas da Europa. Oslo possui diversos parques e é rodeada por florestas, sendo assim o contato com a natureza é constante. Durante o verão a temperatura chegou ao máximo de 27 ºC, mais isso só por 3 dias. O inverno mais rigoroso com muita neve foi a -17 ºC, mas a oportunidade de esquiar foi muito boa, recomendo.

Semanário – Qual é sua linha de pesquisa e o que você foi buscar na Noruega?
Pedrinho – Na área de pesquisa que trabalho juntamente com minha orientadora, Profa. Dra. Altair A. Del Bel Cury, meu foco de interesse são bactérias e fungos presentes em biofilmes orais. O biofilme é um aglomerado de microrganismos envoltos em uma espécie de “cola” (matriz de polimérica). O maior exemplo de biofilme que temos dentro da cavidade oral é a placa dental, responsável por causar cárie dental. A maioria das doenças orais é causada por microrganismos presentes em biofilmes, cárie dental, periodontite, perimplantite e candidose. Foi descoberto que esses microrganismos se comunicam através de moléculas sinalizadoras (“quorum sensing”), as quais ativam resposta nas células, fazendo com que esse biofilme se torne mais patogênico (capaz de produzir doenças). O trabalho que desenvolvi em Oslo foi com duas moléculas sinalizadoras, ambas produzidas pelo microrganismo Streptococcus mutans, bactéria presente na cavidade oral e associado à doença cárie. Uma molécula chamada CSP (competence stimulating peptide) já havia sido bastante estudada, mas nós conseguimos isolar e identificar a segunda molécula, denominada XIP (sigX-inducing peptide). Esse trabalho já foi publicado no periódico internacional Journal of Bacteriology.

Semanário – Conte um pouco sobre os trabalhos publicados e apresentados durante os estudos.
Pedrinho – Os resultados encontrados nas pesquisas são apresentados em congressos com objetivo de discutir os resultados encontrados com outros grupos de pesquisa, nacional e/ou internacional, e também de ter conhecimento dos trabalhos desenvolvidos. O importante é manter-se atualizado e avançar no conhecimento, favorecendo com que o Brasil avance cada vez mais na área cientifica. Participei de alguns congressos nacionais e internacionais, sendo que o último foi o 112º Congresso da ASM (American Society for Microbiology) em San Francisco, nos Estados Unidos. Nesse congresso foi possível discutir alguns resultados e aprimorar outro trabalho realizado em Oslo que será submetido à publicação. Todos os resultados encontrados devem ser publicados com o objetivo de compartilhar o conhecimento encontrado com o mundo. A preferência por revistas internacionais em língua inglesa favorece o acesso de outros pesquisadores e facilita a comunicação, difundindo o conhecimento. Até o momento tenho autoria em 7 publicações e participação em 12 congressos com apresentação de trabalho.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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