ArtigosJ.R. Guedes de Oliveira

Gente de quem?

Uma das formas mais pífias, violadoras do direito de ir, vir e estar, da nítida discriminação de pessoas, de reconhecida exclusão social, a pergunta Gente de Quem? foi, ao longo de muitos anos (e parece que ainda permanece em certos meios), algo próprio de Capivari.

Já ouvimos de tantas pessoas esta abusiva prática discriminatória, que não sabemos precisamente quando se iniciou mas, contudo, reconhecemos que, para este caso, conta muito o sobrenome.

Gente de Quem? tomou proporções maiores e isto foi difundido por todos os quadrantes do Brasil, o que penaliza sobremaneira o bom nome da “Terra dos Poetas” e coloca, gerações e gerações numa chamada “saia curta” que muitos denominam discriminação.

Vamos, então, descrever. Se um nativo, ao se dirigir a outra pessoa, perguntar Gente de Quem?, então determinará a continuação do diálogo. Pressupõe que se o interlocutor não possuir um sobrenome de família da terra, então não haverá a continuidade do diálogo. É assim que se pode imaginar a péssima e discriminatória pergunta Gente de Quem? Qualquer pessoa, ao receber esta pergunta, ficará desorientada e perplexa quanto ao seu princípio discriminatório. Depois, tem mais: quando se inicia a conversa entre as pessoas ou a elas é apresentada, leva-se sempre em conta o caráter, a simpatia, a cordialidade que deve existir. Jamais se deve levar em conta a questão do seu sobrenome, como isto fosse essencial à boa prática da amizade e da convivência.

Não sabemos quando nasceu esta forma inquisitória de trato entre as pessoas, normalmente em Capivari, pois que, onde as pessoas se encontram, são indagadas dessa prática corriqueira entre capivarianos. Coisa que não tem propósito e só serve para denegrir a imagem de uma cidade. Que já não basta ouvir-se por ai que Capivari foi uma das últimas cidades a libertar os escravos e, assim mesmo, mantendo muitos deles em regime severo. É o que comumente ouvimos e sentimos isto tudo como algo estarrecedor.

Alertamos o que a história verídica nos relata. No final da década de 50 e início da de 60, ocorreu sérios problemas de discriminação racial no jardim da Praça Dr. Cesário Mota. Os mais antigos que isto presenciaram, viram as vias de fatos se processarem entre negros e brancos. Coisa chocante, que obrigou a polícia de então, ou seja, a Guarda Civil, intervir com energia, além de figuras maiores da administração municipal. Lembramos muito bem do episódio, pois que fomos testemunhas oculares dessa degradante manifestação racial, iniciado o entrevero bem perto do Coreto e em frente ao Cine Vera Cruz. Teve, pois, sérias consequências na imagem da cidade como um todo.

Mas voltando ao Gente de Quem? somos a favor de abolir tal prática nociva, preconceituosa, discriminatória e que só serve para manchar o bom nome da cidade. A estes que se vangloriam do seu sobrenome e praticam tal ato, fica a nossa recomendação de não mais utilizarem desse expediente. Todos tem sobrenome e não há necessidade alguma de salientar que há diferenças entre as pessoas a partir do que carrega no seu documento de origem. Um gesto grosseiro da pergunta Gente de Quem? é próprio de quem se ache acima de tudo e de todos.

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