Neste ano de 2024, estamos comemorando o centenário da edição do livro “A Sala dos Passos Perdidos”, do insigne poeta capivariano Rodrigues de Abreu (1897-1927).
A obra, de 1924, lançada pela Cia. Gráfica Editora Monteiro Lobato, de São Paulo, com 139 páginas, marcou a estreia de Abreu nas letras, já que o livreto “Noturnos”, contendo um pequeno feixe de sonetos foi, na verdade, recolhido e incinerado por desejo do próprio autor.
Dedicado a sua mãe, D. Leonor Ribeiro da Silva e ao seu amigo e conterrâneo Amadeu Amaral, é dividida em três partes: Folhas, Estrada Suave e A Sala dos Passos Perdidos, com sonetos e versos livres, já divisando, na essência, a sua tendência modernista e futurista.
Redigida em Capivari, sua cidade natal, entre os anos de 1919 a 1922 – efervescentes para ele, na sua grandeza de cultura, sabedoria e infindas amarguras – A Sala dos Passos Perdidos é o retrato de sua vida, nos versos que produziu neste poema de abertura, que leva título à obra: “Minha alma é a Sala dos Passos Perdidos do Rei Salomão, que andou por minha alma, num dia nevoento de longos bocejos!”.
Cremos, na verdade, que o poeta se consagrou de início de sua literatura, culminando com a obra-prima “Casa Destelhada”, produzida em 1927, ano do seu falecimento, aos 30 anos de idade.
Nesse exato momento de aparecimento da obra em destaque, Rodrigues de Abreu, muito embora com a sua própria linha literária, sofria influência de seus autores preferidos que muito estudara: Bilac, Tagore, Whitman, Nobre e Knot Hamsun. Sabe-se que o lançamento do livro repercutiu sobremaneira em todo país e a crítica em peso com os mais longos elogios ao poeta. Nenhuma obra, naquele ano de 1924, marcou a literatura poética nacional, tão quanto ao que foi A Sala dos Passos Perdidos.
Numa resenha publicada no jornal “O Estadão”, edição do dia 21.05.1927, assim Amadeu Amaral se expressou sobre Rodrigues de Abreu e sua obra:
“Quando fazia versos bem medidos e bem polidos, de acordo com os tratadinhos de metrificação, Abreu era um versejador que apenas prometia. Debaixo daquela couraça de barbatanas, as suas carnes e os seus movimentos nada denunciavam de realmente vigoroso e pessoal. Atirando foram o aparelho, o jovem capivariano cresceu espantosamente. Deu-me até a impressão de uma dessas longas cobras, de armação enroscada, que saltam de uma caixinha minúscula. O seu primeiro livro revolucionário “Sala dos Passos Perdidos”, foi a revelação de um poeta que não parecia estar contido nem com as róseas muito apartadas, nas produções anteriores”.
Quem sabe possamos engendrar todo esforço possível, visando a reedição desta obra, como uma homenagem póstuma a Rodrigues de Abreu. Lembramos, aqui, que até agora, passados 100 anos, não houve qualquer reedição específica a esta obra. Como boa vontade não nos falta, ficamos no aguardo de adesões ao projeto.