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Moradoras reclamam de infestação de carrapatos em Rafard

16/03/2015

Moradoras reclamam de infestação de carrapatos em Rafard

A professora Regivane Aparecida Alves, de 32 anos, e a dona de casa Mariza de Oliveira, de 34, enfrentam o problema há mais de quatro meses na Rua Colonização, próximo ao Rio Capivari
(Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Vizinhas disseram não saber mais o que fazer para acabar com os carrapatos. ‘Em qualquer lugar que você olhe tem carrapato andando’, diz Regivane (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

RAFARD – Moradoras da Rua Colonização estão preocupadas com uma infestação de carrapatos que já dura mais de quatro meses. A professora Regivane Aparecida Alves, de 32 anos, e a dona de casa Mariza de Oliveira, de 34, são vizinhas e disseram não saber mais o que fazer para controlar a situação. “Não é só na minha casa. É em praticamente todas as casas da rua”, afirma Regivane.

Elas moram próximas ao Rio Capivari. No local, há muitas capivaras e cavalos, de acordo com as moradoras. Após entrarem em contato com a Vigilância Sanitária da cidade, receberam um maçarico e foram orientadas a passar fogo nos carrapatos com o auxílio de um botijão de gás. “Eles falaram que tiveram um problema e que agora não enviam mais pessoas para dedetizar, que teria de ser a gente”, conta Mariza.

“Diz que antes eles enviavam. Daí teve um caso de uma pessoa que se queimou com o maçarico. Mas se era funcionário da Prefeitura, como o morador se queimou? Não sei se é verdade. Isso é o que foi passado”, continua Regivane. “Daí o vereador Rodolfo trouxe para mim. Não sei se ele passou pegar por vontade dele ou se o cara entrou em contato com ele.”

Na última sessão da Câmara, realizada na noite de terça-feira, 3, Rodolfo Minçon (PROS) falou pela segunda vez sobre a proliferação de carrapatos próximo ao rio. Em uso da tribuna, o parlamentar lembrou que a capivara é hospedeira do carrapato-estrela, principal transmissor da febre maculosa. Ele contou que também tem recebido reclamações de moradores das ruas Felício Vigorito, Dr. Laureano e João Quadros. As três ruas mais a Colonização são paralelas entre si e terminam no rio.

Vigilância Sanitária entregou um maçarico às moradoras e recomendou que elas passassem fogo nos carrapatos com o auxílio de um botijão de gás para combater a infestação (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Vigilância Sanitária entregou um maçarico às moradoras e recomendou que elas passassem fogo nos carrapatos com o auxílio de um botijão de gás para combater a infestação (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

“É um absurdo estarmos aqui falando de uma questão de higiene e até mesmo social. Não temos estrutura, condição de colocar veneno e nem como roçar”, critica. “As pessoas que moram lá não têm culpa. Se estão lá é porque a ação social, que um dia deveria ter existido, não existiu. Então agora temos de cuidar delas”, acrescenta o vereador. “Se a cada 15 dias tivermos de voltar a falar de assuntos que em 15 dias não foram resolvidos, vai ser difícil algum progresso no município.”

A Vigilância Sanitária de Rafard informou que não aplica veneno em residências ou quintais, apenas orienta o morador quanto à desinfecção do ambiente, de acordo com o tipo de carrapato. Para identificar a espécie, é preciso colocar um carrapato dentro de um pequeno frasco com álcool e encaminhar ao órgão. Se for constatada que a infestação é em área pública, a Vigilância Sanitária é responsável por tomar as devidas providências, segundo o diretor Celso Cerezer.

“É a primeira vez que enfrento esse problema. Dou banho na minha cachorra toda semana com veneno, mas não acaba. Tem pela parede, no chão. Em qualquer lugar que você olhe tem carrapato andando”, diz Regivane. Ela e a vizinha contam que, além de passarem fogo, dedetizam a casa com Butox e dão banho nos animais com o produto toda semana. Os cachorros também usam coleira anti-carrapato.

“Mas não adianta”, garante. “Já chegamos a acabar com tudo num dia e no outro tem de novo. Com o Butox, a gente dá banho e eles morrem praticamente na hora. Mas no outro dia o cachorro está cheio de novo. E o fogo eu já passei três vezes na minha casa, um cara veio passar para mim. Só que a gente passa fogo e continua”, detalha a moradora.

“Imagina você cozinhar num lugar que está cheio de carrapatos”, diz Mariza. A dona de casa já teve de enfrentar poucas e boas com o ectoparasita. Há mais ou menos três semanas, encontrou um carrapato morto dentro do ouvido. Mariza relata ainda ter sido picada várias vezes. “Fica um monte de bolinha, sabe? E coça muito. Com certeza é picada de carrapato.”

Carrapatos estão por toda parte nas casas de Regivane e Mariza (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Carrapatos estão por toda parte nas casas de Regivane e Mariza (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Os pesquisadores do Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Francisco José Zorzenon e Leila Barci, explicam que os carrapatos podem ser encontrados em todas as estações do ano, mas no verão sua presença aumenta como qualquer outra praga urbana, devido aos quatro “As”: água, abrigo, alimento e acesso. “Soma-se a isso a reprodução em maior frequência e velocidade em condições de temperaturas mais altas”, afirmam.

Deste modo, eles acreditam que as casas de Regivane e Mariza, bem como as residências das outras três ruas, podem estar infestadas de carrapato-estrela, muito comum em capivaras e cavalos. Conhecido também como micuim, carrapato-pólvora, carrapato-fogo, vermelhinho ou carrapato-de-cavalo, necessita de três hospedeiros para completar seu ciclo de vida, que pode durar mais de dois anos. As fêmeas geram de cinco mil a oito mil ovos.

Segundo a veterinária Renata Zani, que também é diretora clínica do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Capivari, a queima de carrapatos com o maçarico, processo conhecido como vassoura de fogo, é eficiente, mas deve ser realizada por quem saiba manusear o equipamento, uma vez que o botijão de gás pode explodir ou a pessoa se queimar. O método também combate vírus e outras bactérias, porém, precisa alcançar até os menores lugares, o que dá mais trabalho.

Assim, Renata recomenda que o controle do carrapato seja feito de outro modo, por meio de duas ações simultâneas: dedetização do ambiente e cuidados com o animal de estimação. Para a casa, a veterinária sugere o Triatox. De acordo com ela, o produto tem bula parecida com o Butox, mas é mais eficiente e não é tão caro. Para o cachorro, Ivermectina em comprimido e banho com Triatox a cada 15 dias.

“Um comprimido por semana durante quatro semanas e dedetizar a casa com uma bombinha duas vezes por semana. No cachorro, a dose é 1 ml para 1 litro de água. Dar banho com shampoo normal e, ainda úmido, jogar o medicamento do pescoço para baixo”, explica. “Não pode jogar no olho, na boca e nem no nariz”, ressalta. “Tem de esperar dez minutos, segurar ele para não lamber e depois passar uma toalha pelo corpo. Não é preciso enxaguar.” Já a pulverização do ambiente deve ser feita com 2 ml de Triatox para 1 litro de água.

Segundo Renata, é preciso estar atento porque, mesmo que não esteja contaminado com a bactéria da febre maculosa, o carrapato pode transmitir três doenças aos cachorros: erliquiose, babesiose e baboplasmose, as chamadas doenças do carrapato. “Normalmente, o cachorro emagrece, perde o apetite, não quer brincar, tem febre, sangramento nasal, na urina ou nas fezes. Tem cachorro que também fica com a pele amarelada.”

Aparecendo qualquer um desses sintomas, é necessário levar o animal até um veterinário para a realização de um exame de sangue e detecção da doença. Há casos em que os sintomas podem demorar até seis meses para aparecer, de acordo com Renata. “Ele pode estar com um monte de carrapatos agora e daqui um tempo não ter nenhum e aparecerem os sintomas. É comum isso acontecer”, afirma.

O IB-APTA recomenda ainda o monitoramento de locais onde os carrapatos podem ser encontrados, mantendo o gramado ou o mato aparado próximo às áreas por onde circulam pessoas. O que não acontece na rua de Regivane e Mariza. “Aqui é um lugar abandonado. Eles [a Prefeitura] só vêm na época de eleição, quando querem pedir voto”, conta a professora.

“Falta bueiro aqui embaixo, não dá nem para lavar a frente de casa. Dá uma olhada na quantidade de lama na rua”, acrescenta Mariza. Segundo as vizinhas, os moradores do local não podem contar com serviço de varrição de ruas, quanto menos capinação dos terrenos mais próximos ao rio. “Para carpir é uma briga, porque eles dizem que a área é da Marinha. A janela do quarto do meu amigo, se você abrir entra mato. Ele já achou cobra, escorpião”, lembra Regivane. “Outro dia eles roçaram, mas foi quando apareceram mais carrapatos ainda. Não sei de onde sai tanto.”

(Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Terreno ao lado das casas infestadas raramento é roçado pela Prefeitura, segundo as moradoras da Rua Colonização (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Febre maculosa

A principal doença provocada pelo carrapato-estrela é a febre maculosa, que pode levar o paciente à morte. A pessoa infectada precisa de tratamento rápido logo após a confirmação do diagnóstico, antes do aparecimento de manchas pelo corpo, que surgem quando o quadro da doença já está avançado e é de difícil reversão. Entre os principais sintomas estão febre moderada ou alta, dor de cabeça, dores pelo corpo e manchas, principalmente na palma das mãos e na planta dos pés.

*

O IB-APTA também faz identificação de espécies de carrapatos. Para isso, o cidadão precisa enviar amostras para Triagem Vegetal – Instituto Biológico: Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1.252, Vila Mariana – São Paulo (SP). CEP 04014-002.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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