ArtigosRubinho de Souza

Nos tempos da caderneta

Os tempos vão passando e muitas coisas que para os mais velhos eram corriqueiras, para os mais jovens podem parecer estranhas, ou “novidade”, notei isso quando o Leandro, ainda bem criança, tomou contato com uma vitrolinha que herdei de meu nono Loatti. Aquilo para ele era uma novidade, pois nunca teve oportunidade de ver uma dessas tocando.

Mas voltando ao assunto, as relações comerciais eram bem diferentes, diziam que um fio de barba valia como um contrato, e lembrando disso me lembro das cadernetas, que valiam mais que muito contrato de crediário de hoje em dia.

Morei na venda de Itapeva, que era do Nono Loatti, e desde criança via as pessoas indo comprar mercadorias com aquele caderninho brochura, normalmente verde e com o nome do freguês. O Nono Loatti dizia que antes as vendas vendiam por ano, e ao final da safra o freguês acertava a conta.

Mas a lembrança que me marcou mais, já aconteceu aqui em Rafard, na venda do Nono Leandrim. Tinha uma freguesa, a dona Luiza Cavallari, esposa do senhor Adelizio Cavallari, que quando um dos filhos casava, ela pedia uma caderneta no nome do filho, ou filha, fazia a primeira compra da nova família que se formava, pagava e dava aos noivos, que se tornavam novos fregueses.

Como sempre digo, pelos frutos se conhece a árvore, e essa “árvore” gerou bons frutos, o tempo passou, fechamos o mercadinho, sim de venda virou mercadinho, mas as cadernetas continuaram, bem como os laços de amizade com a maioria dos fregueses de caderneta. No casamento da Meirielen, filha do Norberto Cavallari com a Nice, relembramos isso. Eles ganharam a caderneta da mãe e depois de tantos anos a gente estava assistindo o casamento da filha, hoje em dia ela já é mãe, e isso nos faz pensar como o tempo passa muito rápido.

Nos tempos da caderneta
Nos tempos da caderneta

Outro fato marcante da dona Luiza era que junto de outras colaboradoras da Congregação Cristã, faziam visitas aos irmãos que passavam dificuldade, puxando da memória, lembro da dona Lazinha Céres, para quem vendi muito óleo em um garrafão de plástico para fritar os deliciosos salgadinhos que ela fazia, aliás escrevendo isso, até sinto o sabor das deliciosas esfirras que ela fazia, a dona Mariinha de Alfredo Quagliato, e sua mãe, a dona Santa do Chico Serrador, que era de uma ternura imensa.

Voltando para as “memórias gustativas”, lembrei das caçulinhas do Guido e do Braggion que tomava em minhas excursões noturnas na venda de Itapeva, caçulinha com a tampa furada por prego, acompanhada por queijo duro. Aliás sempre tive bom faro para queijo, comprovado pelo fato da dona Maria Luisa, mãe de seu Waldemar Daroz, que todo sábado ia em nosso armazém, pedia pra eu escolher um queijo bom, que eu cortava ao meio, dava um pedaço para ela provar, e depois ela levava inteiro.

Outros casos ficam vindo e voltando na nossa memória, mas se formos enumerar todos daria um livro, muitas daquelas crianças que compravam doce de caderneta cresceram, e ao cruzar conosco na rua nos reconhecem, mas a gente só vai descobrir quem são quando falam: Sou filho de fulano, e comprava na sua venda, fora os minis modelos fotográficos que posavam para nossa lente amadora (foto), e que na maioria já tem até filhos, nos lembrando mais uma vez da passagem do tempo.

Relato escrito por Jr. Quibao – Rafard em 24 de março de 2017 às 09:11

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