Artigo escrito por Heitor Turolla,
historiador e vice prefeito de Rafard
Para que a capela localizada na Fazenda Itapeva seja restaurada, conservada e tratada com todo carinho e respeito que merece, alguma coisa precisa ser feita. Ela é a menina dos olhos de todos nós Rafardenses, pois se tratando de história, que é cultura, como nos relata em seu livro Silveira Rocha, também o historiador, professor Vinicio Stein Campos, e a escritora da secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, Vera Lúcia Pessagno Brescia, aquela capela está prestes a desaparecer, se não forem dados os primeiros socorros. Em 1795, já era de alguns anos, a casa de orações daqueles humildes residentes, pobres índios e escravos, a casa do Senhor, tendo como padroeiro, São João Batista de Itapeva.
Como mostram nossas fotos, queremos impedir que esse terrível crime aconteça em nossa comarca, o que seria para nós uma barbárie, além do julgamento severo que as próximas gerações iriam fazer de nós, que sabendo parte dessa história nada procuramos fazer para ao menos mantê-lá conservada. Para que essa pequena história, porém grande pelo seu sentido, não seja esquecida, estamos novamente empenhados nessa luta, porque, parados, seríamos como criminosos encobrindo um crime apurado pela justiça.
Palavras falam, porém não mostram o sentimento e a dor de um povo, que aos poucos vai perdendo sua história sem nada poder fazer para salvá-la.
O professor Jorge Cunha Lima, ex-secretário da Cultura do Estado de São Paulo, nos dá um exemplo do que é um povo que não conserva sua história e nos relata que um povo sem memória, dificilmente compreende o presente e impossivelmente construirá o futuro.
Como cidadão que defende e luta para conservar a memória de Rafard, estamos diante novamente de um trecho de nossa história, que se destruída nos deixará órfãos em matéria de história. A exemplo de muitas cidades brasileiras que guardam na memória o seu passado, Rafard também luta para a conservação dessa Capela, pois ali está representado não só Rafard, como também o surgimento de uma Comarca.
Para quem ama educação e cultura, este assunto não é para gerar polêmica porque ele é um dogma, uma verdade que não se discute. Os representantes do povo têm o dever e a obrigação de zelar pelo patrimônio cultural de sua cidade e impedir a sua destruição, fato definido como: Sentimento de Amor à Terra e dedicação ao interesse público.
Não preservar essa Capela, é ceder lugar ao progresso ou ao regresso? Para progredir é necessário destruir? Essa Capela é um monumento, é um patrimônio histórico que precisa ser preservado. Preocupar-se com o Patrimônio Cultural do Município é educação, cultura, saber, não faz mal a ninguém, só engrandece. Concordo que não devemos viver de recordações do passado, e que devemos dar livre passagem ao progresso, entretanto, será uma atitude sábia se pudermos conciliar, preservar o culto ao passado, viver o presente e preocupar-se com o futuro, ” o futuro de um homem está escrito em seu passado” ( S. Sismondi).
Há um ditado popular conhecido ” A voz do povo é a voz de Deus”. Há quase 04 anos, perdemos através do acordo, Prefeitura/ Cosan”, o alicerce, ou o pilar de nossa história: a casa do fundador da cidade Julio Henrique Raffard. E como ela foi demolida? Em altas horas da noite, para ninguém presenciar, receando possível interferência popular. Cabos de aço em suas bases foram amarrados, puxados por trator, ela veio ao chão aos pedaços, seu madeiramento?… transportado para as caldeiras, sobrando somente cinzas. Tijolos?… esmagados por tratores, não sobrando pelo menos um, para que aquele pedaço de barro queimado, servisse de recordação daquela obra, para que os Rafardenses, que amam sua terra, não esquecessem sua história. Hoje acredito que seria tudo diferente, porque analisamos, amadurecemos o suficiente para compreender o valor histórico de nossos antepassados.
Eu estou sendo muito cobrado para dar inicio à restauração daquela capela, sendo que todos se manifestam pela sua preservação, protestando veementemente contra a omissão das autoridades de então, não ajudando as manifestações populares que deveriam prevalecer.
Como pensamos e procuramos dizer, há que se ter muito respeito e consideração com as nossas raízes, com os testemunhos vivos de nossa cultura, com os pilares do nascimento de toda uma cidade e com o destino de suas memórias. É muito triste e desolador assistir a esse fenômeno, que mancha o cenário cultural de nosso País, da falta de respeito diante do que é considerado ” velho”, ultrapassado”! É lastimável que nem sequer as pessoas supostamente esclarecidas, se preocupam em conservar, em salvaguardar o futuro, as origens, a arquitetura, até mesmo um dos marcos de surgimento da cidade, como acervo afetivo da referência para gerações vindouras.
O Brasil é um País jovem, para jovens que um dia, ao desejarem remontar o passado, se aperceberão que ninguém, com raras exceções, se preocupou em defender seu patrimônio.
Vamos conjugar nossos esforços e abraçar esta causa que é de todos nós. Esta capela deve ser restaurada e conservada, depois tombada como maior monumento do Patrimônio Histórico Cultural da cidade de Rafard. Tombado no sentido de preservação e não de destruição. Esta é uma responsabilidade que compete não somente aos proprietários, prefeitura ou Câmara, mas à toda sociedade Rafardense. É dever de todos nós, evitarmos a omissão, cidadãos e autoridades, lavando as mãos e deixando a casa cair, e com ela desabando um pouco da cultura que ainda nos resta.