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Contos do Caipira: O conto do orquidário (Capítulo 2)

Tive arrepios, mas não fiquei assustado.
Encontrei uma chapa de ferro redonda, pequena, que muita gente conhece: era a peça de um jogo de maia (ou malha).
Aquele jogo que o chão é limpo e tem um pedaço de madeira em cada ponta da pista.
Quando joga, tem que derrubar, ou, dependendo da distância que para a maia, vale pontos. Não conheço bem o jogo.
Pensei em levá-la, mas deixei de lado.
Enfim, chegamos aos escombros. Quase não conseguimos entrar de tanto cipó, galhos e marimbondos tomando conta, mas chegamos à imensa varanda da casa grande. Janelas e batentes encostados, telhas… o que sabemos é que, um dia, foi um mosteiro.
Corredor enorme. Na entrada, pela varanda, uma sala grande. No centro dela, uma mesa redonda já não dá mais restauração, o que me faz doer o coração.
Muito pesada e destruída.
À direita, outra sala. Deveria ser uma copa ou escritório. À esquerda, um ambiente que deveria ser a cozinha. Dá para ver também uma grande chaminé.
O telhado está no chão e as ripas penduradas. Consegui tirar algumas e amarrei com cipó para o Diego levar.
Tirei um caibro que parecia leve e resolvi levar. Avistei um pedaço de porta na qual ainda restava uma fechadura antiga, com maçaneta de um dos lados.
Para levar com cuidado preparei as ripas, o caibro e parte desta porta.
Nisso, o Diego me chamou a atenção para com os marimbondos: um dos cachorrinhos, inocente, foi olhar no chão por baixo de um vitral destruído e levou uma picada. Saiu chorando! Eu quis ajudar, mas não deixou, coitadinho. Saiu com o focinho inchando e foi embora o mais depressa possível, sozinho.
Nesta casa, muito grande, o corredor é estreito e, do lado direito, há vários dormitórios. O telhado também está no chão.
Um dos quartos tem uma árvore que cresceu bem no meio do cômodo. Dá pra imaginar?
O corredor corta em forma de cruz, com banheiros, dormitórios e cozinha, todos pequenos.
Uma tristeza imensa começa a tomar conta do meu coração. Diego não via a hora de sair dali. Foi ele quem encontrou o cipó para amarrar as ripas, então achei melhor irmos embora mesmo.
Não é um lugar seguro, pelo contrário: é assustador. Um casarão no meio do mato.
Diego, meio sem saber como levar o feixe de ripas, não quis colocar nos ombros, mas saiu na frente sem olhar pra trás.
Eu, com a ajuda do pé de cabra, apoiei as madeiras nos ombros e saí atrás do Diego e dos cachorros, os dois que ficaram.
Eu não conseguia acompanhar. As madeiras pareciam ser leves, mas eu já estava com os ombros doendo.
Uma loucura. Eu só olhava para o chão e não parava. Logo, avistei a peça de ferro e resolvi abaixar para pegar. Consegui, mas quase caí.
E foi então que eu senti de novo o perfume, que não era de nenhuma flor que eu conhecia. Senti uns arrepios novamente. O Diego foi embora e eu fiquei com aquele peso nas costas.
Foi muito estranho!
Atrás de mim, uma charrete surge e o caminho se abre. O moço me ofereceu ajuda, dizendo pra colocar as madeiras ali e subir. Achei esquisito, mas subi na charrete. Há quanto tempo eu não subia numa charrete…
Continua na semana que vem.

Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

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