Liderado pelo capitão Bruno Uvini, o Brasil conquistou no sábado, 20, a Copa do Mundo de Futebol sub-20 ao derrotar Portugal por 3 a 2 na final da competição disputada na Colômbia. O zagueiro capivariano ergueu a taça do torneio, a quinta da seleção brasileira na categoria. “Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida, obrigado meu Deus pelas bênçãos na minha vida, é penta”, disse após o duelo, por meio de sua conta no Twitter.
Para Uvini, que, em fevereiro, desfalcou o Brasil nas partidas finais do Sul-Americano, no Peru, por conta de uma lesão e não pôde levantar a taça continental, a conquista do Mundial teve um sabor especial. “É um sonho realizado, não pude erguer essa taça antes pela fratura. Vim para a Colômbia com esse objetivo a mais e para mim esse gostinho é especial, em dobro. Concretizei um sonho da nossa geração e ajudei a nos colocar na história. Essa taça tem um valor muito pesado. Sentimos o peso do mundo na mão”, revelou o zagueiro são-paulino em entrevista ao jornal O Semanário, na noite de terça-feira, 23, pelo Skype.
O Semanário – Como foi a experiência de ser capitão, conquistar o título do Mundial sub-20 2011 e erguer a taça na Colômbia?
Bruno Uvini – Foi muito prazeroso e realmente um orgulho fazer parte desse grupo, principalmente como capitão, já que no Sul-Americano, por conta de uma lesão, tive de voltar antes e acabei não tendo aquele momento de erguer a taça, mas ficou esse gostinho de erguer a taça no Mundial e eu fui com tudo para ajudar a equipe a ser campeã e no final comemorar ali. É um título que vai ficar marcado para sempre na memória por causa da importância e da maneira que foi: jogos difíceis e um grupo maravilhoso. Criou-se uma verdadeira família e, com certeza, vai ficar marcado pra sempre na memória.
O Semanário – Você foi campeão Sul-Americano no início deste ano também pela seleção sub-20, mas não pode erguer a taça por uma lesão que lhe tirou fora da disputa. O que passou na sua cabeça naquele momento e o que lhe veio à memória no momento em que você ergueu a taça do Mundial?
Bruno – São poucos segundos e acaba dando aquela emoção, você não consegue pensar em muita coisa, mas realmente a hora que eu fui pegar a taça do Blater [Joseph], presidente da Fifa, e do presidente da Colômbia fiquei emocionado. É um momento especial que vai ficar guardado na história. Daqui 20 ou 30 anos essa imagem vai estar sempre lá, mostrada, lembrando o pentacampeonato da seleção e eu muito feliz por estar ali naquele momento. Claro que são poucos segundos, mas acaba passando um filme na cabeça, a lesão, a volta por cima, dificuldades que a gente encontra, mas um momento de glória e consagração dessa geração e eu pude estar lá, representando Capivari, Rafard e nossa região. Foi muito importante o carinho de todos, o que é muito gratificante.
O Semanário – Como foi o período de recuperação e expectativa quanto à lesão que lhe deixou fora dos gramados? Em algum momento você pensou que não conseguiria voltar a tempo de disputar o Mundial?
Bruno – Eu sabia que era uma lesão séria por se tratar de uma fratura, mas não tinha pegado nada de ligamento, tinha certeza que seriam no máximo três meses e, do final do Sul-Americano até o começo do Mundial, ia dar tempo tranquilo de recuperar. Claro que eu me esforcei ao máximo para voltar o quanto antes. E voltar bem. Fiz o trabalho certinho e a fisioterapia do São Paulo é maravilhosa, me deixou a ponto de bala para voltar e disputar o mundial. Os jogos exigiram um bom condicionamento físico e eu fui evoluindo ao decorrer das partidas, o que me deu uma boa sequência de jogos e agora eu espero dar continuidade aqui na equipe do São Paulo.
O Semanário – Você já teve a oportunidade de passear pelas ruas após a conquista do título?
Bruno – Na verdade, não deu pra fazer nada. Cheguei no domingo bem tarde da noite e só deu para ficar com a família mesmo, estava com bastante saudade de casa. Deu para ficar um pouco com eles, contar todas as histórias e descansar. Na segunda-feira, acordei, arrumei a mala e viajei pra São Paulo para me reapresentar à equipe. Com tempo eu quero conversar com todo mundo e agradecer pelo apoio que me deram pelas ruas da cidade.
O Semanário – O atual dono da faixa de capitão no São Paulo, Rogério Ceni enalteceu sua postura como capitão e o elogiou dizendo que você tem uma liderança natural, é sério e bom profissional. Como você recebeu esses elogios desse ídolo são-paulino?
Bruno – Cada vez que você recebe uma palavra de elogio do Rogério, chega a brilhar os olhos. Quando ele elogia, você pode ter certeza que é sincero e por merecimento. Me senti muito feliz. Ele é um cara que eu me espelho e aprendo só de observar e escutar ele falar como capitão, aqui no São Paulo. Muito do que aprendo com ele eu procuro aplicar lá na seleção. É um privilégio poder jogar ao lado dele.
O Semanário – Um movimento de usuários do Facebook vem sendo organizado durante a semana para que você desfile pelas ruas da cidade em cima do carro de bombeiros. Você foi comunicado sobre isso? Qual a possibilidade de vermos o capitão campeão apresentando a medalha aos capivarianos?
Bruno – Fiquei sabendo, sim, meu pai comentou comigo. Eu achei bacana e uma iniciativa muito legal, a gente até riu. O carinho da torcida de Capivari foi uma coisa impressionante que eu recebi pela internet, através das redes sociais. O único problema são os horários, porque provavelmente eu vou ter que ficar tratando direto, já que voltei lesionado do tornozelo, mas não é nada grave. Mas seria uma ideia bem legal e uma forma de agradecer o apoio que todos me deram.
O Semanário – Qual a sensação de um jogador de 20 anos com tudo isso acontecendo a sua volta?
Bruno – Me preparei muito para que isso acontecesse. Trabalhei bastante e todo mundo que me conhece sabe o quanto me dedico a essa profissão. Abri mão de muita coisa na vida, de ficar perto da família, de horas de diversão. Agora, tudo o que plantamos, estamos colhendo. As coisas estão começando a acontecer. Só que o título mundial foi muito bom, mas já passou. Se a gente não der uma sequência aqui no São Paulo, o futebol te engole, tem que provar a cada dia que você é bom.
O Semanário – Você é o atual capitão da seleção brasileira sub-20. O que representa ser o capitão de um time de futebol?
Bruno – É bastante responsabilidade, ainda mais quando se fala de uma seleção brasileira com jogadores do nível de Neymar e Lucas, por exemplo, na Sul-Americana, e, no Mundial, jogadores da Europa, como Felipe Coutinho, que joga na Inter de Milão, alguns jogadores do Porto de Portugal e outros jogadores aqui do Brasil. Você tem que ser exemplo e procurar manter o grupo unido, mantendo a confiança de todos. É uma coisa natural, vem da educação, vem de casa e eu procuro passar isso ao restante do grupo.
O Semanário – Como está a sua situação na equipe do São Paulo após o retorno? Até quando você tem contrato?
Bruno – Tenho contrato com o São Paulo até 2014 e, antes do Mundial, eles me procuraram para uma renovação, mas, como ficou em cima da hora, foi ela interrompida. Agora, a gente vai dar sequência nas conversas, nas negociações. Mas eu tenho certeza que, tudo bem conversadinho e bem acertado, ficando bom para os dois lados, as coisas vão se resolver da melhor maneira possível.
O Semanário – Como você está lidando com o assédio da imprensa e da mídia? Isso incomoda em algum momento?
Bruno – Não incomoda. Isso é bom para divulgar o trabalho que a gente faz. Atender com carinho a todos é uma maneira de retribuir o que a gente fez. Tento sempre atender todo mundo, com muito carinho e atenção. Às vezes não dá para responder a todos, principalmente pelas mídias sociais, mas procuro dar entrevistas, sempre agradecendo todo mundo, afinal a torcida é importante.
O Semanário – As fãs querem saber como está o coração do capitão brasileiro? Está namorando?
Bruno – Meu coração está disponível e liberado, a procura de um novo amor. Estou solteiro e tranquilo… Quem sabe, se aparecer a mulher certa, eu firmo um namoro aí, mas vamos deixar acontecer.
O Semanário – Como equilibrar o futebol e a família?
Bruno – É complicado, nessa profissão a gente acaba ficando muito tempo fora. Nesse campeonato mundial acabei ficando praticamente dois meses fora e tive apenas um dia para ficar perto deles e tentar matar a saudade. Mas, pela vontade de fazer tudo dar certo, a gente tenta superar isso. Mas minha família me apoia muito, são pessoas maravilhosas e sem eles eu não teria conseguido tudo o que consegui hoje. Eles são minha fortaleza. Com certeza, o sucesso está agregado a eles.
O Semanário – Copa 2014. Você espera um espacinho na seleção principal?
Bruno – A gente tem que sonhar alto, mas tem que ter os pés no chão. Tenho metas em curto prazo, mas tenho sonhos grandes também e, com certeza, quero estar lá, em 2014, na Copa do Brasil. Não vai ser fácil… A gente tem que sonhar e ralar, mas se querer e buscar, tudo é possível.
O Semanário – Depois de mais essa experiência, qual a mensagem você deixa aos jovens que estão lutando para conquistar o seu espaço no futebol e tem o sonho de atuar em grandes equipes?
Bruno – A dica que eu deixo é acreditar sempre. Eu comecei como qualquer um começa. Muita dedicação e abri mão de muita coisa. Se tiver um objetivo, educação, humildade e respeitar a todos, as coisas se realizam. Qualquer um pode chegar aonde quer chegar!
O áudio da entrevista será transmitido pela Rádio R FM 107,9, na segunda-feira, 29, após o programa R Esportes, às 12h30.