Opinião

Campos Sales

04/12/2015

Campos Sales

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

Artigo | Por Leondenis Vendramim

O Tenente Coronel Francisco de Paula Sales e sua esposa Ana Cândida Ferraz de Sales tiveram doze filhos, dentre eles, o terceiro, foi Manuel Ferraz de Campos Sales. Nascido no dia 13 de fevereiro de 1841, em Campinas na Rua, hoje, Campos Sales. Filho de cafeicultores formou-se em direito em 1863. Abriu escritório em Rio Claro onde sua família morava. Casou-se com Ana Gabriela de Campos Sales, em 1865. Esposa que o animava, dando-lhe muita energia, e mais, seu sogro, um cafeicultor abastado, ajudou-o na sua carreira, sempre ascendente. Entrou para a política 4 anos depois como deputado da província. Foi, em 1873, um dos organizadores da Convenção de Itu e do PRP (Partido Republicano Paulista) com, além do objetivo óbvio, lutar pela abolição da escravidão no Brasil. Assumiu, a convite do Mal. Manoel Deodoro da Fonseca, a pasta da Justiça. Numa carta escrita ao seu irmão Joaquim, revelou-se ser um republicano de fato e de coração, com emoção e pertinácia. Sua atuação foi fecunda: elaboração do novo Código Penal, separação da Igreja do Estado, melhoria das condições do trabalho agrícola, reforma do Código Comercial, entre muitos outros relevantes. Quando deixou o ministério teve a aprovação maciça da imprensa como trabalho ilibado e “escrupulosamente honesto”. Ah! Tivéssemos outros iguais nos nossos tempos! Como Senador apresentou diversos e importantes projetos republicanos. Em 1885 o PRP elegeu-o deputado federal, e, em 15 de novembro de 1898, presidente da República do Brasil. Desenvolveu a política de apoio aos cafeicultores em detrimento à indústria. De caráter marcantemente firme pelo que julgava direito, era tolerante para com seus oponentes. Disse ele: ”Sei por experiência própria quanto custa a um homem de consciência desempenhar-se da grave responsabilidade que assume com as funções de governo.” E criticou “a falta de ideais entre políticos e o predomínio das paixões partidárias”. Foi presidente austero, operoso e de honestidade sem igual.

Campos Sales ascendeu à presidência numa época em que o Brasil não tinha crédito algum no exterior, por isso viajou à Europa para reaver o crédito e recuperar a confiança dos europeus no Brasil. Ouviu muitas críticas, mas não se abalou. Contatou-se com reis e ministros, sábios da finança internacional, banqueiros e industriais, com o renomado Lord Rothshild (de quem ouviu elogios pelo sucesso nas tratativas). Campos Sales conseguiu um empréstimo valioso de 10 milhões de libras esterlinas, muito expressivo para a época. As condições vantajosas foram de grande ajuda para salvar as finanças do Brasil. Melhorou o relacionamento do Brasil, o câmbio teve um salto positivo.

O presidente recorreu ao aumento dos impostos o que lhe custou forte oposição e ameaça do comércio de fechar as portas, respondeu aos líderes comerciantes: “Não posso obrigar ninguém a ser patriota, mas hei de fazer com que cada um cumpra a lei”. Sales estudou, traçou os planos e seguiu fielmente, não se preocupando em agradar, nem em constranger os atingidos pelos aumentos dos encargos; “para o bem do Brasil” dizia. Tudo fazia para consolidar as finanças sob estrita economia. Não admitia uma despesa sequer antes de pôr em ordem e regular as contas do país. Tudo fazia para redimir a saúde financeira e deixar claro o objetivo primeiro, a regeneração financeira. E cumpriu sua meta, apesar da férrea oposição, que o chamava de Campos Selos, em alusão aos impostos. Governou sem revanchismos, sem violências. Obteve o reconhecimento da imprensa: “O que prometeu, cumpriu. Honradez, franqueza, lealdade, para consigo mesmo, para com o regime, para com o povo… honrou São Paulo e o Brasil, pelos seus serviços e suas virtudes”. “… ele se manteve fiel, do primeiro ao último dia… repor em ordem as finanças da Nação e as repôs contra tudo e contra todos. Teve de lutar contra os interesses feridos, com os despeitos políticos… com as dificuldades e os tropeços de quem governa sem dinheiro, sem brilho, sem popularidade. Mas não transigiu com os seus princípios…” Idem, p. 87. Sales possuía caráter íntegro e não se pendia para atender a interesses escusos. Pena que nossos políticos não sigam esses exemplos de conduta ilibada.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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