De 1937 a 1941, aos domingos à tarde, quem estivesse na praça central assistia a uma inusitada cena para a época: depois da catequese, da matriz, saiam crianças e adolescentes conduzidos pelo jovem e simpático coadjutor de Monsenhor Rosa, rumo ao Teatro São José, para o “cineminha”. Iam cantarolando a folclórica “Seu Bartolo tinha uma gaita, a gaita era…”. A 15 de agosto de 1960, Solenidade da Assunção de Maria, tomou posse como nosso segundo bispo. No centenário de seu nascimento, ainda que singelamente, a gratidão nos obriga recordá-lo.
Aníger Francisco de Maria Melillo, nascido de Vicente Melillo, e de Regina Morato do Canto Melillo, em Campinas, a 27 de junho de 1911. Aluno no Colégio São Luís, dos jesuítas, na Capital paulopolitana, do Seminário Menor de Campinas, do Seminário Central no bairro do Ipiranga, onde cursou Filosofia e Teologia. A 31 de dezembro de 1933, Dom Francisco de Campos Barreto o ordenou presbítero. Primeiramente, Coadjutor do Cônego Francisco Borja do Amaral, na Basílica do Carmo, Campinas. Depois, na matriz de Piracicaba. Em 1941, sucede a Dom Amaral nomeado bispo de Lorena, novamente na Basílica do Carmo, recebendo o título de Cônego. De 1943 a 1956, reitor do Seminário Menor de Campinas, onde formou um bom número de padres. Era pároco na minúscula Iracemápolis (SP), quando João 23 o chamou ao episcopado, recebendo a ordenação também na Catedral de Campinas, a 29 de junho de 1960.
Entre nós, sentiu-se em casa, reencontrou amigos, muitos dos seus ex-catequizandos e dirigidos. O novo bispo continuava com a singeleza e a bondade de outrora. Participou das sessões do Concílio, entre 1962-1965, juntamente com o Cardeal Wojtyła e o teólogo Ratzinger. Com tranquilidade implantou na diocese suas diretrizes. Construiu o Seminário de Nova Suíça. Em 1963, criou a Faculdade de Serviço Social, em 1964, o Colégio Comercial Imaculada Conceição, em 1971, o Cemitério Parque da Ressureição e, ainda, 12 paróquias e ordenou 14 padres para a diocese, além de outros tantos do clero regular.
Nos obscuros anos, pós o Golpe Militar de 1964, em oposição à situação política, participou de passeatas em Piracicaba e, depois, em Rio Claro. Entre nós, para livrar os manifestantes da repressão policial, na sua grande maioria estudantes, os introduziu na Catedral, evitando o pior.
Fomentou o Movimento de Cursilho de Cristandade, tendo sido nomeado pela CNBB o seu diretor nacional. Para os jovens organizou na diocese formação similar. Foi chamado o Bispo da Reconciliação, pela sua conhecida disponibilidade em atender os fiéis no sacramento do perdão. Mostrou-se um grande patrono da família, escrevendo e falando em defesa de sua integridade, juntamente com seu cunhado, o Dr. Mesquita, em particular por ocasião da entrada do projeto em favor do divórcio, no Congresso Nacional.
Patrocinado pelo Cardeal Agnelo Rossi, então arcebispo de São Paulo, teve a felicidade ímpar, fato inédito na História da Igreja em nosso país, de ter ordenado padre o próprio pai, aos 83 anos, para ser o capelão do Asilo São Vicente de Paulo, em Osasco, obra custeada totalmente pelo insigne advogado.
A piedade aprendida em casa conservou-a até o fim: a Eucaristia e Nossa Senhora. A ela alude em seu brasão episcopal, cujo lema Omnes unun sint (“Que todos sejam um”) (Cf Jo 17, 11), humilde e disponível, buscou realizar, considerando-se sempre um simples servo de Cristo e da sua Igreja.
A 11 de janeiro de 1984, o Beato João Paulo II aceitou sua renúncia. Foi morar com a família em São Paulo e faleceu no Instituto do Coração, a 17 de abril de 1984. Está sepultado na cripta da nossa Catedral.
Também para ele se aplicam as palavras da Escritura: “Eis o grande Sacerdote que nos seus dias agradou a Deus e foi encontrado justo” (Eclo 44, 16-17). “Do Reino celestial” (2Tm 4,18), continue a abençoar esta agradecida Vinha que lhe foi confiada pelo Supremo e Eterno Pastor.