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Editorial “Caipirinha da São Bernardo”

No dia 8, o mundo comemorou mais um Dia Internacional da Mulher. Parabéns a todas as mulheres! Seu dia precisa mesmo ser lembrado, especialmente pelos que as cercam.
Seu amor dedicado, sem limites muitas vezes, fez o homem ir à Lua, provocou guerras e sempre busca a paz. E é nesse turbilhão de vai e vens da vida, que a história conta sobre sua coragem. Ao andar à frente do seu tempo, fez o tempo provocar na sociedade em que vivia a compreensão dos novos caminhos.
Assim foi a busca de uma dessas corajosas mulheres, que olhou adiante do seu tempo. Mas hoje, ela nos obriga a olhar pra trás, a fim de refletirmos em como resgatar um pouco dessa história de amor e coragem, que presentearam Rafard e Capivari com seu talento.
A “Caipirinha da São Bernardo” estaria pensando hoje em como o tão moderno e avançado tempo das coisas novas pôde deixar pra trás sua memória. A Fazenda São Bernardo, onde a artista plástica mundialmente conhecida nasceu e viveu parte de sua infância, está em total abandono. Mais uma vez o cartão postal de Rafard é dos mais lamentáveis possíveis.
Dá para imaginar Tarsila do Amaral, recém-chegada da Europa – depois de ter convivido com o refinado gosto pela história e pela cultura; tendo vivido no meio de uma gente que se doa para preservar sua memória – chegando à Fazenda São Bernardo de hoje? Dá para imaginar como é que a dama do Modernismo enxergaria o mundo que ela tanto amou e retratou em suas obras? Sim, dá para imaginar. Como Tarsila, muita gente de Rafard, de Capivari e do mundo, nasceu ou brincou na São Bernardo.
Quanta gente já passou pela estrada coberta pelo bambuzal que outrora só era permitida aos proprietários da Fazenda, enquanto um caminho alternativo era disponibilizado aos funcionários e suas famílias.
Infelizmente, só depois de muito tempo, a Fazenda São Bernardo passou a ser Patrimônio Cultural e Histórico do Estado de São Paulo. Mas agora, o abandono, a depredação e a descaracterização do local são considerados crimes. Quem dera outro tombamento tivesse acontecido lá atrás, com a casa do fundador, Julio Henrique Raffard. Mas essa nós perdemos. Essa o tempo apagou e nenhuma outra edificação poderá substituir a riqueza de sua história.
É por isso que, mesmo a propriedade da São Bernardo sendo particular, é dever do Poder Público cuidar do patrimônio de seu povo. Não há como se eximir dessa responsabilidade. Sejam obras grandes ou pequenas, o papel da administração pública, do Ministério Público e da sociedade em conjunto, é fazer com que o nosso patrimônio faça reviver em nós a cultura e a história, faça ressaltar na população de Rafard e de Capivari a alegria de ser berço de pessoas talentosas, corajosas e acima de tudo, à frente de seu tempo. Mas para isso é preciso vontade política.
A Fazenda São Bernardo, assim como a Itapeva, a Rua Tietê, o Tanque São José, o Parque Ecológico de Capivari, são riquezas nossas, que não podem, em vista dessa ou daquela desculpa, ficar abandonados, deteriorados.
É necessário investir para preservar esses patrimônios. E é imprescindível cobrar do poder público essa atitude, porque as futuras gerações certamente cobrarão essas lacunas deixadas em sua história.
Afinal, um povo sem história é um povo sem memória, é um povo sem pátria e sem chão.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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