Opinião

Religião e ética III

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

Artigo | Por Leondenis Vendramim

A ética que Jesus ensinou era diferente do padrão moral religioso do seu tempo e quebra o nosso paradigma. Precisamos ser humildes para aceitar essa mudança. Na questão moral há muitos de Seus ensinos que nos chocam.

Todos, ou quase todos conhecemos os dez mandamentos que são as colunas mestras da ética e da religião cristã. Jesus disse: “Se Me amardes guardareis os meus mandamentos” (João 14:15). Convido o leitor para ler e refletir, pensar bem o que diz cada mandamento (Ex. 20:1-17). Medite um pouquinho e responda para você mesmo: você obedece a Deus? Lembre-se que Tiago diz: “Qualquer que guarda toda a lei, mas transgride um, é culpado pela transgressão de todos” (2:10). Jesus desdobrou esses mandamentos: “Eu… digo-vos que todo aquele que se irar contra seu irmão” não precisa matar “… e quem proferir insulto a seu irmão estará sujeito ao fogo…” Mt 5:22. “…qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura no coração, já adulterou…” Mt 5:28. O pecado é gerado no pensamento, antes do ato.

Outra quebra de paradigma: “… amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” Mt 5:44. E mais, “Se teu irmão pecar contra ti, vai” tu “argui-lo, entre ti e ele só. Se ele te ouvir ganhaste um irmão” Mt 18:15. Isto contraria a nossa ética pessoal. Como desejar bem ao nosso inimigo, orar por ele e amá-lo? “Se foi ele que me ofendeu, ele deve procurar-me”. Não é esta a nossa ética? É assim que pensamos e não o que a religião nos ensina.

Ainda Salomão nos ensina: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita ira” Pv 15:1”Se aquele que te aborrece tiver fome, dá-lhe de comer, se tiver sede dá-lhe de beber…” Quando nos ofendem, não é espontânea em nós a resposta com a mesma agressão? A ética bíblica difere muito de nossas atitudes.

Deus é sábio. Se alguém nos ofende e vamos procurá-lo para pedir desculpas, o ofensor se compenetra do seu erro, e torna-se mais receptivo a uma reconciliação. Experimente. Se o esposo, ou esposa ofender sem motivo, ou gritar com você, diga-lhe em voz baixa: desculpe-me, querida (o), o que foi que eu fiz de errado para você gritar comigo? Fiz sem querer, mas me perdoe. Acha que o (a) ofensor (a) não vai se envergonhar e se retratar? Salomão diz que assim fazendo é como “amontoar brasa sobre sua cabeça” (ver Pv 22:25).

A lei de Deus, quanto à mentira e ao furto (Ex 20:15-16), está muito vulgarizada. É comum e até motivo para vanglória e esperteza o receber troco maior do que o devido, o não pagar por algo que passou sem que o vendedor percebesse. São aparentes “pequenos” deslizes. São na realidade, deformidades do caráter, prenúncios de crimes maiores. Como o aperitivo alcoólico conduz à embriaguez, esses delitos levam a criminalidade crescente, e são decisivos para a ruína. Os costumes são formados pelos pensamentos gerados pelos órgãos do sentido. Eles são formadores do caráter, assim, quão importante é que tenhamos pensamentos puros. Aquilo que lemos, ouvimos, vemos, o que passa pelos sentidos, é de suma importância. “As más companhias corrompem o bom costume” (1Co 15:33), diz Paulo. O conselho paulino é ocupar a mente com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, de boa fama e louvável. “Cria em mim ó Deus, um coração (pensamentos) puro e renova dentro de mim um espírito (caráter) reto” (Sl 51:10). Isto não é puritanismo, é atitude cristã. Todos temos defeitos, mas é nossa tarefa ingente e urgente o corrigi-los, ou é melhor não ter o nome de cristão, rótulo já por demais banalizado.

Que Deus nos bendiga a fim de que não O desonremos com uma ética barata.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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