J.R. Guedes de Oliveira

Tarsila do Amaral

No dia 1º. de setembro de 2016 foi comemorado o 130º. aniversário de nascimento da colossal pintora capivariana Tarsila do Amaral (1886-1973). E, neste 2023, a memória dos 50 anos do seu falecimento.

Há, no entanto, uma divergência quanto ao ano de nascimento. Os registros dizem-no ser em 1886. Mas, contudo, numa pesquisa encetada pelo nosso conterrâneo Lôlo Ferracciú, obteve, ele, no Cartório de Registro Civil de Capivari, uma cópia da Certidão de Nascimento – assento lavrado em 17.02.1936, onde diz ela ter nascido em 01.09.1894. Além disso, o nome grafado como “Tarcila Amaral”. A dúvida, assim, fica: teria, ela, falecida com 79 ou 87 anos de idade? Há quem diga, inclusive, que ela tenha feito alteração no ano de nascimento, visando obter a sua aposentadoria.

É claro que a reverência ao seu nome e ao seu trabalho tornou-se, com o passar do tempo, uma enorme bibliografia, entre obras sobre a sua personalidade, seu caráter, suas pinturas, seus artigos e crônicas no “O Estado de S. Paulo”, seus amores, suas decepções, suas sucessivas viagens pelo Brasil e pelo mundo e pela sua participação política.

Em verdade, o que ela representou na pintura brasileira, entre todas as suas obras de distintas matizes é algo que, ainda, merece uma melhor e mais profunda biografia, entrelaçada, sim, pela sua infância. O que se fala e o que se sabe, nas falas e nos escritos é, sempre, da sua vida adulta e não sobre as suas andanças em Capivari, Mombuca, Rafard, Piracicaba, Jundiaí, Indaiatuba, para citar as principais. Aliás, até há reivindicações destas cidades sobre a sua naturalidade. É um tanto obscuro, mas deve-se sempre levar em consideração a sua própria afirmação: “Nasci em Capivari, SP”.

Os seus estudiosos, nem sempre falam ou escrevem o verdadeiro sentido de sua vida atribulada, entre figuras de realce e da sociedade alta paulistana. Rica e extremamente generosa, Tarsila do Amaral herdou a fortuna do caráter e da dignidade através de uma pessoa doce: D. Lídia Dias Estanislau do Amaral, sua mãe. E sobre ela foi quem disse o Cônego Moisés Nora, lá pelas bandas de 1927: “Perguntem aos pobres e aos ricos de Mombuca se a conhecem… Perguntem em Capivari e em Campinas se tal estatura de mulher poderá passar em silencio entre as mulheres populares de tais cidades… Perguntem em São Paulo, entre a alta roda dos centros políticos da opulenta capital, se tal senhora não tem o seu nome escrito em letras de ouro em todas as obras meritórias, tanto religiosas como patrióticas”.

Portanto, o carisma de Tarsila do Amaral, o seu talento e a sua capacidade são verdadeiros frutos herdados de sua mãe, Lídia. E foi dentro de tudo isso que a pintora capivariana acabou por ser reconhecida mundialmente.

Muito embora levando uma vida agitadíssima para os padrões paulistas da época, Tarsila do Amaral sempre se aconchegou de Capivari e, na cidade, mantinha um círculo de amizades sinceras e amigas.

Lembramos, ainda, de sua casa na rua Fernando de Barros com a rua Barão do Rio Branco, onde, pelo quintal, colhíamos os abacates redondos e gigantes. E a casa enorme, acolhendo-nos para uma audição de violão e conversas, principalmente com o Dr. Milton Estanislau do Amaral – figura que a nossa família muito foi amparada. Mas isto é uma outra história.

O que nos importa, a bem da verdade, é enaltecer a figura da Tarsila do Amaral como uma das mais criativas e compromissas para com o nosso país, principalmente no retratar o seu povo, a sua gente, as suas raízes, coisas que, lamentavelmente, deixaram de existir em tantos artistas atuais, mais voltadas às riquezas materiais que o cultivo do panorama brasileiro como um todo.

Para retratar, como poucos, a criatura que foi Tarsila do Amaral, nada como reproduzir, aqui, a poesia “Tarsila”, de Homero Dantas (Eduardo Maluf), retirado do livro Salomé e Outros Versos, que organizamos e foi publicado e em 1997, pelo Movimento Capivari Solidário:

Teu Espírito encerra o Belo que, em fusória
galhardia com o gênio, esplende!…E, assim, traduz
vida e amor teu cinzel, que no mármore a Glória
perpetua de um poeta ou herói que lhe faz jus.

Artista do pincel, também, que alto reluz,
colores a beleza imortal de notória
paisagem, em rasgões fulgurantes de luz,
– corre extravasando em tela meritória!…

Na rota astral: São Paulo, Rio de Janeiro,
Paris, Moscou… fulgiste!, e hábeis mestres cobriram
de lauréis teu afã real, ímpar, altaneiro!…

Glória de minha terra, eu quero celebrar-te,
e, nesta admiração, meus versos se refiram
a Tarsila do Amaral – talento que plasma a Arte!…

Eis, pois, singela homenagem a esta figura maravilhosa das artes brasileiras.

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