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Contos do Caipira: O palhaço

A história que eu vou contar é a história do próprio que está a falar.
Pelas minhas gargalhadas já dá pra se imaginar.
Eu fui um palhaço, modestamente eu fui um palhaço muito especial.
Um palhaço que fazia a plateia se rir, a plateia chorar.
Palhaço que, com suas gargalhadas, e com suas palhaçadas, fazia a plateia se levantar.
Esse palhaço, um dia, esse pobre palhaço, da plateia teve que sair. Do palco teve que sair.
Pra mor de que uma donzela, que fez seu coração partir!

Enquanto todo mundo esperava, o palhaço se pintava, o povo, a plateia esperava
O palhaço com suas gargalhadas.
Mas quando o palhaço apareceu no palco, ele percebeu
Que na plateia escura, quando a luz se acendeu, sua gargalhada não saiu.
E o palhaço se escondeu nesse dia, o palhaço não se ria!
Por trás das cortinas, o palhaço chorava, o palhaço não se ria.
Porque na plateia, a sua amada, um outro homem ela beijava, enquanto o palhaço se apresentava.
A sua amada ele via, entre abraços e beijos, do palhaço ela se ria.
Mas o bom palhaço, do circo não pode sair, o palhaço no palco não pode deixar de rir.
O palhaço!
Mesmo com a dor no peito tem que pular, tem que dar salto mortal, tem que brincar com a criançada.
Tem que se rir com a mulherada, tem que fazer o povo se levantar.
Enquanto o palhaço, com sua gargalhada…
O palhaço!
O palhaço sorria, o palhaço chorava por dentro.
Por fora o palhaço se ria, mas por dentro o palhaço não mais existia.

Essa é a história do palhaço, o palhaço de tanta alegria!
Numa noite depois do espetáculo, quando a cortina fechou,
O palhaço, limpando o rosto, tirando a tinta do rosto, tirando o chapéu da cabeça,
Tirando sua roupa de palhaço,
No espelho ele se olhava, e mesmo sem a sua maquiagem,
O palhaço continuava a existir.
O palhaço foi enganado, o palhaço saiu sem destino, e nunca mais ninguém viu!

O circo sem palhaço não tem graça!
O circo tem que ter palhaço!
Tem que trazer alegria!
Há quem diga: volta palhaço, volta! Volta pro circo!
No palco do circo, a plateia te espera, espera que a cortina se abra e de novo!
De pé, a plateia se ria.
Pobre palhaço!

Ela nem imaginava que eu era o palhaço.
E até hoje ela não sabe que eu sou o palhaço.

Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

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