Rubinho de Souza

DO FUNDO DO BAÚ RAFFARD

16/02/2018

DO FUNDO DO BAÚ RAFFARD

De volta ao passado (capítulo terceiro)

Ao chegar no “Benefício de milho e arroz” dos Irmãos Darros, busco no bolso a listinha que minha mãe fez, pois não consigo me lembrar se ela pediu para comprar fubá para fazer a polenta, mas tudo bem, se precisar, eu volto para pegar depois, afinal não é tão longe, e terei uma boa desculpa para sair novamente, passar no cine Paratodos, ver se tem filme novo com “censura livre”, porque com Júlio Forti e Bimbo Brajão, não tem como passar naquela porta para assistir filmes impróprios para minha idade…

Ao passar em frente à nossa Igrejinha da Congregação, lembro que tem culto hoje à noite, e minha mãe deve passar na casa de João Castro, para ir junto com a mãe dele, a Ana Castro, que pela idade já avançada, caminha devagarinho e gosta da companhia da minha mãe para ir à Igreja.

Eu e meus irmãos sempre acompanhamos meu pai à igreja para poder levar seu instrumento de música que é uma tuba, que ele deixa cada um levar um pouquinho, e quando ele está distraído conversando com outros crentes, como o “Gusto”, pai de Judite, ou o Monaro, pai de Toninha Bordó, que também vão à igreja, aproveitamos para dar uma “tocadinha”, mas ele nos chama a atenção, dizendo que não pode tocar na rua.

Depois dessas divagações, chego finalmente à Venda do Seo Leandrin, que sempre nos acolhe sorridente e brincalhão, mas como ele não guardou meu nome, talvez por ser moleque ainda, numa referência ao apelido do meu pai, pergunta: – O que vai levar hoje Carminho? Respondo, depois de cumprimentá-lo que vou levar um litro de óleo, e incontinenti, pego o vasilhame da sacola, e fico observando intrigado como ele faz para encher o litro de óleo, somente girando uma manivela naquele tamborzão, mas logo meu pensamento já está em outro lugar, como é próprio nos moleques.

Saindo da Venda do Leandrin, vou até a oficina do Brai foêro, e deixo o canecão que minha mãe recomendou para colocar cabo, onde ele me atende soltando baforadas de seu inseparável cachimbo, cujo cheiro da fumaça se mistura com o cheiro característico de elementos e restos de solda de sua oficina cheia de muita fuligem pelo intenso trabalho que ele desenvolve com capricho e maestria.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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