Editorial

Editorial: Despedidas

09/05/2014

Editorial: Despedidas

Foto: Túlio Darros/O Semanário

Foto: Túlio Darros/O Semanário

“E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.”

Qual o sabor da despedida?

Para cada ser humano, um significado diferente.

Um mês de maio no mínimo estranho. Cercado de comemorações importantes, como o Dia do Trabalhador em 1º de Maio, abençoado pelo padroeiro São José Operário, seguido neste domingo, 11, pelo Dia das Mães, homenageando a maternidade e a mulher, que concebe a dádiva da vida.

Mês também, infelizmente, marcado pelo amargo sabor da perda.

No campo material, ainda sem maiores explicações, a população contabiliza uma obra a menos na ‘Cidade Coração’. O Ginásio Antonio Cerezer localizado no Centro Esportivo Reinaldo Fontolan (Cepar), interditado desde 2007, deu lugar a montes de entulho. Abandonado por gestões anteriores e com explicações com pouca transparência, o ginásio foi demolido sem qualquer aviso prévio. Será esse também o fim do Centro Municipal de Natação Renan Ricomini?

As mazelas frente às obras públicas, que deveriam homenagear entes queridos e servir de orgulho para as famílias, têm aberto ainda mais as feridas, sujando a imagem dos seus, frente ao descaso e abandono. Triste!

Nesta semana, em plena tarde de segunda-feira, 5, um acidente de carro envolvendo três pessoas de uma mesma família chocou a comunidade rafardense. A cidade chorou a morte de Erialda e seu marido Antonio Carlos Dalpino, guarda civil municipal e figura marcante na sociedade pelo seu carisma e disposição. Sem explicações concretas sobre o que pode ter ocorrido, o fato ainda é um mistério.

Na manhã de quinta-feira, 9, o Brasil também se despediu do cantor Jair Rodrigues. Ele seguia em turnê para divulgar seu disco mais recente, “Samba mesmo”, que teve dois volumes lançados em março deste ano.

Despedidas doem, mas fazem parte da vida.

“Será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.”

Como dizia Carlos Drummond de Andrade “A dor é inevitável; o sofrimento é opcional”.

Com trechos extraídos do livro “A Traição das Elegantes”, de Rubem Braga, Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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