ColunistasRubinho de Souza

Otaviano Rodrigues da Silva (in memorian)

.

Do Fundo do Baú Raffard

Meu pai natural de Porto Feliz, nos anos 40, veio a sofrer um acidente ao dar partida com “manivela” em um caminhão carregado de algodão, e esta deu retorno, quebrando seu braço.

Contava meu pai, que eram tempos difíceis, e ele foi dispensado do serviço numa época em que não havia proteção previdenciária para quem sofria acidente de trabalho como hoje, e com filhos todos pequenos, precisava arrumar logo outro serviço para sustentar sua família.

Então meu pai foi trabalhar num sítio, onde teria que cortar lenha para sobreviver, e mesmo com o braço quebrado, ele pedia que minha mãe amarrasse o machado em seu braço, para que ele pudesse executar seu serviço, e assim poder garantir o mínimo para a família.

O que a foto acima, do Sr. Otaviano Rodrigues da Silva, tem a ver com tudo isso?

A verdade é que Otaviano, amigo de longa data do meu pai, ao saber da sua situação, se compungiu de seu sofrimento, e foi até onde meu pai estava morando que era um sítio isolado, onde minha mãe não queria ficar por sentir muito medo do lugar.

Ao ver a situação do meu pai, sem ter ao menos ido ao médico, abandonado no meio do nada, disse: – Não, aqui não é lugar para você ficar com sua família. Arrume sua mudança, que vou levar vocês para perto de mim, e você vai ao médico ver esse braço, e só vai trabalhar na minha padaria quando estiver bem!

Além de socorrer meu pai, o Sr. Otaviano levou meu pai para trabalhar em sua padaria, deu-lhe ajuda financeira, e todo o apoio necessário.

Depois disso, amizade entre eles só fortaleceu, e por muitos anos meu pai trabalhou na padaria do Otaviano, numa relação mais de amizade do que empregado e patrão, tal era o laço fraterno que os unia.

Eu, minha irmã Lídia, meu irmão Gerson e a caçula Elidamares ainda não tínhamos nascidos, mas muitas vezes ouvimos meus pais contarem agradecidos, o bem que receberam do pai de Sadrach, Mesach, Vasti, Loide e Vasni (todos na foto acima) e Lenice que não está na foto.

Anos depois de cada um seguiu caminhos diferentes, meu pai veio à Rafard, onde passou a trabalhar de barbeiro, mais tarde, Otaviano também mudou para nossa cidade, e passaram a se ver mais amiúde, podendo então recordar os tempos difíceis pelos quais passaram.

Numa dessas visitas, Otaviano pediu ao meu pai, que em suas orações, pedisse a Deus, que a sua morte acontecesse quando ele estivesse dormindo, para que ele não a sentisse.

Passados muitos anos, quando ele residia na Rua Duque de Caxias, numa noite ao recolher-se para descansar, dormiu e não acordou mais, assim como era o seu desejo e seu pedido.

Fica a reflexão para todos nós: – Aquele que pratica o bem, Deus o abençoa e cumpre o desejo de seu coração, até na hora da sua morte.

COLUNA de autoria de Rubinho de Souza
Envie sua colaboração para o colunista: [email protected]

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo
Abrir bate-papo
Olá
Podemos ajudá-lo?