J.R. Guedes de OliveiraOpinião

Paulista per misericordiam Dei

08/07/2016

Por J.R. Guedes de Oliveira, ensaísta, biógrafo e historiador

Paulista per misericordiam Dei

ARTIGO | Nesta data que Capivari completa os seus 184 anos, não poderíamos deixar de reverenciar a data significativa de 10 de julho de 1832 – marco de elevação do povoado à condição de Vila – na poesia de seus filhos mais destacados.
O dístico de “Paulista por mercê de Deus” se concretiza e se eleva na literatura pelo que é conhecida como “Terra dos Poetas”.
Nesta homenagem que prestamos, a poesia revela o acendrado amor ao torrão natal, por parte de algumas de suas ilustres personalidades que souberam, através das letras, dar a dimensão do que isto representa para todos os capivarianos natos e adotivos.
Cabe-nos, assim, como filho desta terra acolhedora, parabenizá-la pelo transcurso da data, desejando a prosperidade e o êxito de seu percurso “de São Paulo um recanto abençoado”, como bem diria J. Prata em seu hino.
Lembramos, aqui, que estas poesias foram inseridas no nosso livro “Capivari – 180 Anos”, lançado em 2012, às expensas da Prefeitura Municipal de Capivari.
Parabéns, Capivari!

CAPIVARI – I
J. Prata

Rio, de longe vens. Lembras, de velhas plagas,
as paisagens, talvez, o taciturno aspecto
de ermos recantos onde andam sombras pressagas
pelas margens, lá atrás, onde o leito é mais reto.

Porque, rio vetusto, espelho predileto
de um galho ou de uma flor cuja imagem afagas,
de outro céu, outro azul, ou de uma ponte ou um teto,
lembrança hás de guardar, sempre, ainda que vagas.

Rolas quedo, sem pressa, em silencia de claras
águas boas, feliz, rio das capivaras
e do bugre com seu arco e flechas, bravio.

Bendita a eterna paz, que te envolve e humaniza:
és, aos beijos da luz, rio irmão que desliza,
sob a bênção do sol, em busca de outro rio.

CAPIVARI
Rodrigues de Abreu

Terra de muito azul e de muita harmonia,
onde, ao sol, se divisa o lourejar das messes,
tu nem pareces terra, o que tu mais parece
é um pedaço do céu, de Enlevo e de Alegria.

Há por tua floresta imácula e sombria,
de assaz palpitações e doçuras de preces…
Terra de um povo bom! A ambição não conheces,
nem ódio, nem calúnia; e és boa como o dia!

Mãe fecunda de heróis, de mulheres divinas,
de montanhas azuis, onde o olhar se não cansa,
e de errantes visões, de sons de cavatinas…

És o país ideal da Paz e da Bonança!
Canta a luz, canta a Vida! E nas tuas campinas,
eternamente, paira o verde da Esperança!…

CAPIVARI
Amadeu Amaral

Eis-me na minha velha terreola,
tão clara, tão singela, tão pequena!
Revivo a meninice. É a mesma cena:
minha casa, o jardim, o teatro, a escola.

Todo o passado se me desenrola
em torno, e tudo, como foi, se ordena.
Sorriso, infante de rendada gola,
de cabelo dourado e alma serena.

Mas, quem sabe se o tempo que suponho
morto,, ainda é presente? Se a amargura
de o sentir findo, não é mais que um sonho?

E, absorto, penso ouvir, pela janela,
a voz da minha mãe que me procura,
para saber se estou bem perto dela…

A CAPIVARI
Joaquim de Toledo Camargo

Inda tenho, sorrindo, ao fundo do meu sonho,
a tua imagem clara e o teu céu luminoso
e, de voz dos teus sinos o apelo amoroso
ouço ainda vibrar, matutino e risonho.

Teu rio, tranquilo e coleante, inda sonha
ao sopé da colina, nada o vejo amoroso,
no abraço que lhe dá, sensual e voluptuoso
– velho e querido rio, em que as saudades ponho

Eu bem sei que inda tens o teu ar doce e claro,
o casario branco, o rio sossegado
e a bênção maternal do teu céu azulado…

Mas, onde é de meu Pai o vulto austero e caro?
– Amigos, onde estais? – Onde estás mocidade?
Oh! não. Não podes mais mitigar-me a saudade!….

ANOS DEPOIS
Erício Gonzaga

Passeio na cidade adormecida,
horas mortas, notívagas, a pensar;
e sinto uma ternura indefinida
no silêncio das casas sob o luar.

Acordando-se aos poucos, comovida,
a minha alma se põe a recordar
e ressuscita toda a minha vida
na rua em que via para Rafard.

Eu sinto, sepultadas, as lembranças,
suaves fisionomias sempre mansas
de velhos que bem moços conheci.

E, entre os sobrados tristes e saudosos,
com seus prédios modernos e vistosos,
como remoça o meu Capivari.

VENDE-SE OU ALUGA-SE
Nérea Cortellazzi Rampim

Lá na rua Barão tem uma casa
que há muito tempo já se encontra à venda;
mas, passada por anos me parece
difícil de encontrar quem a pretenda…

Apesar de tão pouco esperançada,
sem o respeito humano contundente,
o “Vende-se ou Aluga-se” – essa Casa
ostenta na janela diariamente…

Também o coração por vez se atreve
ostentar como a casa, o avisos breve
de Vende-se ou Aluga-se, por amor.

Contudo, a hipocrisia, a conveniência,
o temor do ridículo ou decência,
passa a esponja no impulso redentor.

AO RIO CAPIVARI
Homero Dantas (Eduardo Maluf)

O teu domínio é findo, o pobre e velho Rio!…
Não mais vês, exultante, as canoas singrando
as tuas águas, do Tapir rude vibrando,
em batalhas mortais, os tacapes, bravio!…

E não mais goza nem sentes, lento e erradio,
tão lúbrico e vulgar, da carne o afago brando
das lindas bugras nuas que, em festivos bandos,
banhavam-se em teu seio espúmeo e tão macio!…

Qual orgulhos rei, desprezado e sem trono,
hoje te pesa na alma a angústia do abandono:
no passado, volver ao que eras, oh! Jamais!…

Soluças, infeliz… recordações afagas,
pois que, humilde riacho, és remembranças vagas
do caudaloso rio em tempos ancestrais!…

NA RUA TIRADENTES
Francisco Luiz Gonzaga

Nesta rua nasceram meus dois filhos
e, nela, mais morei, na minha vida,
desde que os meus impulsos andarilhos
não me mudaram mais a imensa lida.

Aqui sofri tremendos empecilhos,
num trabalho sem trégua e sem medida,
mas a ninguém nunca neguei auxílios;
sob o meu teto, sempre dei guarida.

Se não puder morrer, como desejo,
na terra em que nasci, terei o ensejo
de nunca mais mudar-me desta casa.

Eu, nela, um neto vi nascer, contente,
que abrigue, pois, a prole descendente,
e, que, comigo, Deus, nisso, compraza.

RIO CAPIVARI
Silveira Rocha

As tuas águas vão, velho rio, a sonhar,
deslizando, a cumprir, e sempre, o seu destino:
ora mais lesto aqui, além mais devagar,
erras, Capivari, tal qual a um peregrino.

E vais, Capivari, quedo sempre a espelhar
do céu, lá no alto azul puramente divino
algo que até nem sei, nunca O SOUBE EXPLICAR,
mas sonhador, porém, docemente imagino.

Vendo-te, quieto e humilde assim, a cismar tanto,
julgo mesmo sentir, de onde não sei, dos céus,
do nada, da saudade, estranha sutileza…

Que sinto eu, afinal? Visão de raro encanto:
– a beleza do céu e a bondade de Deus
em ti, vetusto espelho ideal da Natureza!

PARABÉNS, CAPIVARI!
Pe. Eusébio Van den Aardweg

Cidade querida,
cidade-poesia.
Louvando o passado,
sonhando o futuro
dos filhos teus!

Cidade empolgante,
um povo que vive,
um povo que luta.
um povo unido,
que chora os que vão,
sorri aos que vem.

Cidade aberta
a todas as raças,
que reúne nas raças
gerações do amanhã.
Que acolhe as crianças
– alegria radiante -,
onde os velhos saudosos,
relembram as proezas
dos tempos de antanho.

Cidade pujante,
no verde ondulante
dos teus canaviais.
Cidade Paulista
por graça de Deus!
Que agora festeja
o seu natalício.
Meus votos sinceros:
“Que Deus te proteja
e cresça feliz!”.

CAPIVARI
Leonel Pereira.

Aminha claríssima terra, tão bela,
que tantos poetas souberam cantar,
na minha poesia modesta e singela
eu quero e preciso também exaltar.

Meu berço querido, por Deus abençoado,
a terra fagueira, que é um doce regaço,
tem campos imensos, tem céu constelado,
tem flores na terra, gorjeios no espaço!

Tem lago sereno, jardins florescentes
que guardam segredos e juras de amor:
tem rio tranquilo, campinas virentes,
regatos sonoros, encanto e primor!

Tem aves canoras, tem matas sombrias,
tem vastas searas, frondosos ipês;
é cheia de glória, de aroma e poesias,
seu clima é suave, seu povo cortês…

Tem lindos recantos, beleza atraente,
tem jovens formosas, gentis e diletas;
eu, cheio de orgulho, saúdo contente
a terra adorada de grandes poetas!

CANTO A CAPIVARI
João César Campagnolli

Terra ufanosa e de beleza tanta,
cheia de graça e gente varonil,
onde o sol fulvo cedo se levanta,
a engalanar-te com seus raios mil.

Dizem de ti, mãe cuidadosa e bela,
palmo de chão a transbordar carinho,
que tens o encanto vivo da aquarela
tendo no colo a tepidez do ninho.

Capivari! Ninguém há que te esqueça,
após provar os doces beijos teus…
e que também te não cinja a cabeça
com as rosas do amor – filhas de Deus.

Ledo e feliz estou a ver-te agora
e de honrarias tantas cumulada,
lírio de todos nós, ó pulcra aurora,
que as aves ágeis põe em revoada.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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