ColunistasMarcel Capretz

Ensina, Sampoli.

Marcel Capretz, colunista esportivo

É justo ponderar que estamos no início da temporada. Qualquer análise – tanto positiva como negativa – deve partir desse viés porque realmente tudo muda muito rápido por aqui. O insano futebol brasileiro faz as equipes se reconstruírem duas, até três vezes por ano. Por isso, bom começo de Estadual não significa título lá na frente.

Colocada essa questão, devemos aguçar nosso senso crítico, deixar a preguiça de lado e já analisar o que está rolando nos nossos gramados. E após as grandes investidas de Flamengo e Palmeiras em caros reforços, o nosso filão hoje atende por Jorge Sampaoli.

De cara, me parece contraditoriamente frustrante ouvir, por exemplo, o volante do Santos, Diego Pituca, falar após a arrasadora vitória em cima do São Paulo, que o técnico argentino está fazendo o que ninguém faz aqui no Brasil que é ter um time que goste de atacar e de ter a posse de bola. Ora, não somos o país do futebol-arte? Já fomos. Hoje nossas equipes e jogadores não gostam de ter a bola. Estranho, não?! Mas é verdade.

Sampaoli está trazendo para o Brasil algumas discussões que já são velhas na Europa, mas novas para nós: com a bola todos atacam, inclusive o goleiro. Com e sem a bola todo jogador tem uma função. Mais importante do que o esquema tático é o padrão de comportamento: perdeu a bola, pressão no adversário; retomou, progressão rápida em direção ao gol. Em organização ofensiva, ocupação racional do espaço, principalmente entre as zonas de criação e finalização. Em organização defensiva, uma marcação híbrida, contando com individual e zonal ao mesmo tempo, cabendo ao jogador escolher o que for mais vantajoso no momento, dependendo da circunstância. Diante disso, pouco importa a “fotografia”, 4-3-3-, 3-5-2, 4-4-2.

O Santos pode não ganhar nada com Sampaoli, repito. Adoro tática, estudo, busco entender, mas sei que ela é um meio para se chegar a vitória. A gestão do ambiente é algo que muitas vezes é mais decisivo do que tudo para um time ser campeão ou não. Lidar bem com derrotas é tão ou mais importante do que lidar com vitórias. Como será quando essa equipe santista for derrotada?

Porém mesmo assim me chama a atenção a identidade que o Santos já demonstra. Uma identidade priorizando a posse, tendo a bola como meio de controlar o jogo. Qual outro treinador podemos tirar a camisa de seus jogadores e mesmo assim reconhecer sua equipe, simplesmente por ver manifestado princípios e sub-princípios de jogo? Mesmo com apenas três jogos, já saberemos que é o Santos de Sampaoli ao ver uma saída de bola com o volante entre os zagueiros, os laterais abertos dando amplitude, os meias e atacantes se movimentando, trocando de posição, etc. E derrubando o mito de que há pouco tempo para treinar, Sampaoli respondeu rapidamente no jogo contra o São Paulo às alterações de André Jardine, fazendo sua equipe se defender com uma linha de cinco, em função da presença de Diego Souza e Pablo no ataque tricolor. Há pouco tempo para treinar? Ok, como então otimizar isso. Pensar nessa questão é mais útil, porém mais trabalhoso do que reclamar do calendário.

Não estou subestimando nenhum treinador brasileiro e muito menos dizendo que Sampaoli vai refundar o nosso futebol. Mas vamos calçar as sandálias da humildade e observar com muita atenção e carinho o que esse baixinho argentino tem para nos ensinar.

ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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Jornal O Semanário

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