Rubinho de Souza

Meus inesquecíveis anos dourados

Nasci em abril de 1958, numa casa que ficava no alto de um barranco, frente para a rua Abolição, e esquina com a rua IV Centenário, em Rafard. Logo que tive idade fui matriculado no Grupo Escolar Prof. Luís Grellet, e anos mais tarde, depois de fazer exame de admissão, passei para o Jeni Apprilante, onde fiz o colegial, numa época muito prazerosa e inesquecível para mim.

Se você caro leitor for desse tempo, haverá de se lembrar, que no primário, nossos cadernos eram encapados com papel de seda e depois a gente colocava uma etiqueta para identificação em cada um deles, tudo no maior capricho, e nossos trabalhos de desenho eram feitos em papel cartolina, que depois de terminado, a cartolina era cuidadosamente enrolada feito um tubo e protegida por papel e amarrada, para não amassar e nem sujar.

Nossas pesquisas eram feitas na biblioteca da própria escola, local, onde reinava o mais absoluto silêncio, e enquanto uns iam lá para estudar, outros iam para ler as famosas “Aventuras de Tintim” ou clássicos da literatura brasileira, entre outras.

Não era permitido frequentar a escola com qualquer roupa, todos os alunos tinham que obrigatoriamente ir de uniforme, os meninos com camisa branca e calça cinza, enquanto as meninas usavam blusa branca e saia cinza.

Nas aulas de educação física, usava-se bermuda e camiseta brancas e as famosas “congas” de tecido, também brancas. Nossas brincadeiras na quadra, ou no campo, eram sempre muito saudáveis, jogávamos vôlei, handebol, queimada, futebol, basquete, e disputávamos corrida de velocidade, e de resistência.

Num tempo como agora, em que só se ouve falar em vacina, lembro que naquele tempo a vacinação era feita com um revolver (foto), que só de ver arrepiava o corpo inteiro. Eram feitas filas para ser vacinado, e a curiosidade era grande para ver se doía, se alguém chorava na hora que chegasse sua vez…

Nossas professoras eram todas lindas, bem vestidas e seus perfumes são lembrados por mim até hoje, e quanto aos professores pareciam galãs de fotonovelas. Todos eles usavam jalecos brancos, que lhes davam um ar de autoridade ao adentrar a sala de aula, e até na hora de fazer a “chamada de presença” era gratificante ouvir pronunciarem o nosso nome, para então responder: “presente!”.

A merenda que servida no Grellet, era garantida por Dona Dita e Dona Alice que nos serviam angú de fubá com couve ou sopa de macarrão, feijão e legumes, e de sobremesa sagú. A bebida mais consumida por nós nesse tempo, como refrigerante, era o famoso “kisuko” que se diluía na água, e se fazia dois litros com um só pacotinho e depois de beber, a língua ficava colorida.

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Foto enviada pelo colunista

No Grupo Escolar, era sagrado ao chegar todos os dias, antes de iniciar as aulas, cantar o hino nacional em fila, com a mão no peito e com orgulho. E ai de quem cantasse errado, cruzasse os braços ou aplaudisse após cantar o hino, era advertido pelo (a) diretor (a).

Ao fazer a fila, tínhamos que esticar o braço direito e colocar a mão no ombro do colega da frente para medir e manter a distância do amigo da frente, e permanecer com o braço direito esticado na fila, tocando o ombro do colega da frente, antes de entrar na classe.

Quando o (a) diretor (a) entrava na sala de aula, todos os alunos imediatamente se levantavam, e não se ouvia um pio. Se nosso nome fosse chamado, respondíamos sim senhor, sim senhora para os mais velhos, em sinal de respeito. Mas tudo isso não nos era pesado fazer, tínhamos o maior prazer em estar sendo educados dessa forma.

Nossas férias, começavam no final de novembro e só retornávamos à escola, depois do carnaval. E ainda tínhamos as férias de julho. E todos aproveitávamos o máximo o tempo livre para brincar ou ajudar nos trabalhos domésticos.

As brincadeiras de rua eram com bola, bolinha de gude, pião, amarelinha, tempo pais, peteca, faquinha, bastão, passa anel, esconde-esconde, soltar pipa, andar de carrinho de rolimã, de bicicleta, entre tantas outras brincadeiras, onde meninas e meninos se misturavam, sem que os pais se preocupassem, pois não havia malícia alguma. A malandragem maior era ir ao centro para apertar a campainha das casas, e sair em disparada para não ser pêgo…

Nessa época, colecionar figurinhas, era muito gostoso, e ir comprar um novo pacotinho delas e abrir para ver o que tinha dentro, era uma sensação deliciosa que não dá para expressar através de palavras. Aquelas que fossem repetidas, trocava com um colega, e pegava as faltantes, e assim o álbum ia sendo completado.

À noite o melhor programa era ir na casa do vizinho assistir na TV preto e branco, Perdidos no espaço, Pantera cor de rosa, Rim Tim Tim, Terra de Gigantes, Jeane é um Gênio, Zorro, Vigilante Rodoviário, Tarzan, etc.

Que saudades dessa época em que o quintal de minha casa, no Padovani, era enorme, cheio de pés de frutas, com uma bem cuidada horta, e quando a chuva caia, o cheiro da terra molhada, era agradável. E, à noite, quando ouvíamos a chuva cair forte no nosso telhado sem forro, respingava sobre nossa cama, ao ponto de termos que cobrir a cabeça com a coberta.

Meus pais eram presentes, a educação era regra da casa. Nada de chegar em casa com algo que não era nosso, desrespeitar alguém mais velho ou se meter em alguma conversa de adulto, tempo que somente um olhar do meu pai, bastava para entender sua vontade… Tinha hora para chegar em casa, que era no máximo até às dez horas da noite, sem passar um minuto.

Estes foram os melhores anos de minha vida, e posso dizer sem medo de errar, que se você ao ler este relato, se identificou com as mesmas coisas e também viveu na sua infância tudo isso, sem dúvidas você também foi feliz, e tenha certeza, vivemos bons e inesquecíveis tempos!

(Texto adaptado de uma publicação feita na internet – autor desconhecido)logo do fundo do baú raffard

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