Rubinho de Souza

Nosso herói

logo do fundo do baú raffardfundo-do-baú-nosso-herói

Hoje ao acordar pela manhã, comecei a relembrar e comentar com minha esposa como era a convivência com meus pais, o respeito que eu e meus irmãos quando éramos crianças tínhamos por eles, visto que quando eu nasci meu pai tinha 44 anos e minha mãe 41, então quando comecei a entender um pouco a vida, engraxando sapatos na Rua Maurice Allain, ele tinha 53! Perceberam, que não tive o privilégio de ver meu pai na sua mocidade?

Nessa época, minha família morava no bairro Padovani, onde meu pai tinha um salão de barbeiro (na foto, a primeira casa da direita), que vivia sempre cheio de clientes, até por que naquele tempo no bairro tinha somente a barbearia dele, e ainda muita gente da cidade de Capivari, iam cortar seu cabelo e barba com ele, e traziam seus filhos.

Ele era muito querido por todos, e não tinha preguiça de trabalhar, tanto que quando chegava era já noite, meu pai estava muito cansado, e reclamava que suas pernas doíam muito: – Parecem pegar fogo! – dizia ele, pelo tempo que era obrigado a ficar em pé, praticamente o dia todo.

Então nós, seus filhos, fazíamos um revezamento para cuidar de sua perna e pés, fazendo-lhe massagem com escalda pés.

O que quero deixar registrado aqui, não é somente o ato de fazer isso para nosso pai, mas o carinho com que minha irmã Lídia, principalmente, se oferecia para cuidar dele, porque, ela não esperava ele pedir, e, quando via ele mancando de dor, dizia ela já ajoelhada perto de uma cadeira: – Pai, sente aqui, que vou fazer uma massagem no pé do senhor!

Enquanto um pegava um canecão com água morna, sal e um pouco de vinagre, outro trazia uma bacia de lata, na época muito usada pelas famílias, para colocar roupa no sol, e depois que ele colocava os pés dentro, nós fazíamos massagem começando pelos pés, depois nos calcanhares e na perna, até seu joelho.

Ela tirava seus sapatos com cuidados, e víamos aqueles pés inchados pelo esforço de ficar em pé na sua idade, o que era muito triste para todos nós. Esse ato ritual de amor, era demorado, até quando a água começava a esfriar, então ele dizia: – Já está melhor…

Aí minha irmã que já estava com uma toalha, enxugava seus pés, dedo por dedo, com o maior zelo, pegava uma lixa e passava nos seus calcanhares que eram grossos, e depois de passar uma pomada – quando tinha – colocava as meias nos seus pés, enquanto outro trazia seu chinelo e levava seus sapatos ao lado da cama, no quarto, e suas meias colocava no tanque para lavar…

Feito isso, sentíamos orgulhosos, pois até a maneira de nosso pai andar, já mudava. Após receber todo esse carinho dos filhos, e jantar um arroz branquinho com virado de feijão cozidos na hora com banha, feitos em panela de ferro pela minha mãe, lá ia nosso herói para seu quarto, dormir, pois tinha que acordar cedo noutro dia, e ter disposição para outra dura jornada diária.

E quando ia para seu quarto, ele dizia: – Vamos dormir, que amanhã é dia de senhor sim!

Benditos sejam aqueles que respeitam seus pais e honram a sua memória!

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo
Abrir bate-papo
Olá
Podemos ajudá-lo?