Arnaldo Divo Rodrigues de CamargoColunistas

O menino do filme “A corrente do bem”

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA

A família precisa de ajuda? Toda família precisa de ajuda e em diversas áreas do conhecimento, porque casamento não vem com regulamento, apenas promessa de “amar até que a morte os separe”. E quando vêm os filhos, não vêm com manual de condução – cada casal usa o que aprendeu com os próprios pais e com a vida.

E agora os tempos são outros, e os costumes se modificaram e diversificaram muito. É viver e aprender. A cada etapa superada é necessário se preparar porque a nova etapa é sempre mais difícil – não sabemos ainda como resolvê-la; aquelas que já aprendemos viraram rotina.

E uma lição que precisamos aprender – e somente com educação moral e espiritual é que vamos conquistar – é fazer o desligamento emocional e material, com amor, das coisas, das pessoas e da vida.

De quem é a vontade? De quem é a felicidade? De quem é a paz e a serenidade? De quem é a esperança e confiança espiritual? É nossa ou de nossos familiares. Se é nossa, não deixemos que usurpem, que nos roubem a paz, a harmonia, a confiança. Sim, por mais que eles (familiares) tentem nos desarmonizar e tumultuar nossa vida, mantenhamos o equilíbrio; somente nós podemos nos perturbar. Alguém da família, ou não, só vai nos irritar ou ofender se nós permitirmos, quer dizer, se aceitarmos.

Essa insegurança em relação à família atinge a todos no lar.

Uma das dificuldades que sempre atingiu as famílias, agora em maior proporção, pela industrialização das drogas e do álcool, é a doença da adicção e do alcoolismo, para o usuário, e da codependência para a família (a doença do controle). Os codependentes são aqueles que vivem em função dos outros, fazendo destes a razão de sua felicidade e bem-estar.

São pessoas que têm baixa autoestima e intenso sentimento de culpa. Vivem tentando “ajudar” outras pessoas, esquecendo, na maior parte do tempo, de viver a própria vida, entre outras atitudes de auto anulação.

O que vai caracterizar o doente de codependência é o grau de negligenciamento de sua própria vida em função do outro, bem como os comportamentos insanos que advêm dessa preocupação exagerada com o outro.

A codependência também pode ser fatal, causando morte por depressão, suicídio, assassinato, fibromialgia, câncer e outros. Embora não haja nas certidões de óbito o termo “codependência”, muitas vezes ela é o agente desencadeante de doenças muito sérias.

Mas pode-se reverter este quadro, adotando-se comportamentos mais saudáveis. Os profissionais apontam que o primeiro passo em direção à mudança é tomar consciência (de que isso é uma doença).

E aceitar o problema. (Muitas famílias têm o problema. Não negar ou subestimar o problema.)

No belo filme A corrente do bem, o menino Trevor vive um drama com o pai e a mãe que são dependentes químicos (aparentemente do álcool); depois que o pai vai preso, o filho tenta fazer com que a mãe não beba em casa, jogando na pia o conteúdo das garrafas de bebidas. A doença da codependência não tem idade para se desenvolver.

E a mãe, Arlene, dependente do álcool, tenta esconder as garrafas em lugares que a criança não alcance, como em cima do lustre, ou ocultar dentro da máquina de lavar roupa. Coisas incríveis que o vício leva a pessoa a fazer.

ARTIGO escrito por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA
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Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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