Rubinho de Souza

Toninho da Sapataria

Ao ficar sabendo do falecimento de Toninho Sanches, ocorrido na terça-feira próxima passada, deste mês não poderia deixar de fazer uma homenagem ainda que singela, aquele que foi um grande rafardense e um dos proprietários da Sapataria Sanches, que era estabelecida na Rua Maurice Allain, quando nossa cidade ainda era uma Vila de Capivari .

Toninho, era conhecidíssimo na cidade desde os tempos de Villa Raffard, quando na sua loja de sapatos em sociedade com seu irmão, atendia os compradores, e aos fundos da loja tinha uma oficina onde fazia pequenos consertos de sapados de senhoras, homens e da criançada e também produziam famosas sandálias que até hoje são lembradas. Naquele tempo não era costume usar tênis, e não se jogava sapatos no lixo facilmente, pois coloca-se meia sola, ou a trocava por inteiro, e o sapato durava muitos anos.

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Foto enviada pelo colunista

Além de bons profissionais, todos eles eram pessoas boníssimas, começando pelo “seo” João, o patriarca da família, que quando conheci já era idoso, com seus quase 80 anos, mas ainda ativo ajudava Toninho e Zé, seus filhos.

Atendiam com carinho até os moleques que desciam para o campo do RCA para jogar futebol, pois a Sapataria dos Sanches era parada obrigatória para encher a bola e se preciso fosse dar uma costurada em algum gomo solto, e eles com a maior presteza, fazia tudo com o maior zelo, e na maioria das vezes sem que fosse preciso pagar nada pelo serviço.

E lá íamos nós, como bem lembra Gerson Gasparotto, meninos daquela época de ouro em direção ao campo do RCA, correndo feito loucos, contentes pelo capricho do conserto, agora com a bola cheia, felizes, como se estivesse levando embaixo do braço uma bola nova que havíamos acabado de ganhar de presente.

Por falar em presente, contou-nos José Henrique Angelini, uma passagem que ocorreu na sua infância e que foi um dos momentos que mais marcou sua vida, que foi quando tinha 11 anos de idade, o seu pai faleceu numa véspera do Natal e nessa época, ele morava em frente à Sapataria Sanches. E Toninho vendo aquele menino triste sentado na soleira da porta de sua casa, o chamou e pediu que o mesmo segurasse uma bola nova de futebol para que ele pudesse encher. Ao que o menino de pronto obedeceu, e ao terminar de enchê-la, para sua surpresa Toninho disse nos seus ouvidos: – Esse é o seu presente de Natal! A pureza do menino daquele tempo, que antes de sair correndo em direção ao campo, beijou carinhosamente a face do seu benfeitor, depois de passados 50 anos, ainda se debulha em lágrimas ao relembrar desse episódio, e se emociona muito.

José Roberto Fontolan, filho de Nardo Fontolan de que Toninho era grande amigo, lembra que foi Toninho quem o colocou numa empresa para trabalhar no escritório, sendo seu primeiro emprego e foi o que transformou a sua vida.

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Imagem enviada pelo colunista

Ana Geronimo (Lita Alves), lembra que quando precisava ir à São Paulo para fazer comprar sempre podia contar com a ajuda do amigo Toninho que a todos queria de alguma forma ser útil.

Carlos Albertini Junior lembra com saudades de Toninho com quem trabalhou, como um grande amigo e um patrão de primeira linha, que sabia tratar bem seus aprendizes.

Foi muito gratificante poder contar com a amizade de Toninho, de Zé Sanches e do pai deles, clientes da barbearia do meu pai e pessoas antenadas nos acontecimentos políticos do país, tanto que muitas e muitas vezes ao adentrar a sapataria, ficava admirado ao ver o nível de conversa sobre assuntos diversos entre os dois irmãos. Era um verdadeiro aprendizado, uma aula de vida. E como nenhum deles queria perder para o outro, a conversa fluía e ia longe.

Quanto aos trotes que Toninho Sanches, junto com Laerte Abel aplicavam na molecada, vou deixar para contar numa próxima postagem. Apenas digo que muitos pais de família de hoje, ou até avôs, caíram nos trotes de Toninho e Laerte.

Ouvi certa vez que mesmo na morte de alguém, o que devemos lembrar são os bons momentos vividos e coisas alegres, pois assim fazendo, mesmo na tristeza, fazemos melhor o coração.logo do fundo do baú raffard

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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