Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo

Gilberto Gil, da maconha ao ácido, e o médico maconheiro

A droga que te leva até as nuvens não oferece paraquedas!
Frase de campanha contra as drogas

Num congresso do Amor Exigente, um palestrante médico confessou que durante sua mocidade não se encontrava nos estudos, na música, no futebol, nas artes e, meio arredio a tudo, começou a namorar ela, que surgiu espontânea e cativante. Depois do primeiro beijo se apaixonou e precisava dela todos os dias, estava dependente da maconha.

No mesmo cativeiro, onde se encontrava com ela, surge outra paixão – a cocaína; bastou um olhar para se encantar de amores novamente, mas, sem trair a primeira, continuava com as duas.

Dizem os membros do NA e AA que quando se desenvolve a adicção (escravidão por substâncias psicoativas: álcool, maconha, cocaína, crack) ela passa a fazer parte da própria pessoa.

O estudante precisou de internação numa clínica, por meio ano, para se recuperar; foi onde conheceu o Amor Exigente, que o ajudou a dizer não às drogas e a se transformar no médico respeitado que é hoje.

Em 2005, ao defender a descriminalização das drogas, o ministro da Cultura de então, Gilberto Gil, que foi preso na década de 70 com maconha, disse: “Não fumo mais. Deixei [a maconha] quando fiz 50 anos”. (1)

Como a doença da dependência é caracterizada por ser primária, crônica, progressiva e fatal, não tem cura, mas tem recuperação, algumas pessoas fazem uso delas recreativamente e não desenvolvem a dependência; caso de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Fernando Henrique Cardoso, personalidades que acabam propagando sua liberação, sem considerar que tem consequências e dor, sobretudo para a família (quando se impõe a dependência), além de afetar órgãos, pelos abusos das substâncias, como o próprio cérebro.

Em entrevista à Revista Quem, quando indagado “O senhor já disse que ‘a droga era um fetiche que exorcizava demônios’. Como foi isso?”, Gilberto declarou: “É isso mesmo. As drogas abriram portas celestiais para alguns, e a porta do inferno para outros. Eu tomei quase 100 ácidos lisérgicos e nunca tive uma bad trip (tem gente que toma um ácido e tem a pior onda da sua vida)”.

Em 2016, em entrevista ao O Globo, Gil explicou que foi diagnosticado com uma síndrome cardiorrenal, uma combinação de insuficiência renal com cardíaca. Disse ainda que o tratamento tem exigido internações mensais, mas que elas não interromperam sua agenda de shows. (2)

Na mesma entrevista à Revista Quem, onde confessa que parou de usar maconha, mas não parou de compor, Gilberto Gil diz: “Ultimamente estou sem beber. Até pouco tempo atrás bebia vinho socialmente. Fumei também até pouco tempo, mas parei”. (3)

Parou espontaneamente ou a doença e a recomendação médica obrigaram o cantor a parar, contra sua vontade? Diz o doutor Dráuzio Varella – um dependente de tabaco em recuperação – que é melhor parar por livre escolha, ou então uma doença, bem mais dolorida que a abstinência, vai obrigá-lo a deixar o vício.

Estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta evidências científicas de que a chamada erva natural, maconha, provoca deficiências cerebrais relevantes, prejudicando a memória, o autocontrole, a capacidade de planejamento, de organização e a fluência verbal. (4)

Não existe droga segura. Todas vão causar danos, é questão de tempo. Têm consequências, seja aqui, agora, ou na vida espiritual, onde todos seguiremos após a morte do corpo – e, se não for curado, quem sabe até a terceira e quarta geração. (5)

(1) Folha Online, 30/05/2005.
(2) FolhaPe, de 17/10/2016.
(3) revistaquem.globo.com › edição 720, entrevista › 26 de junho de 2014.
(4) Correio Braziliense.
(5) Dez mandamentos – Êxodo 20.5: “visito a iniquidade dos pais nos filhos, na terceira e na quarta geração daqueles que me aborrecem”.

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA

ARTIGO escrito por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal. São de inteira responsabilidade de seus autores.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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