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Crônicas – Parafernália Poética I

Bruno Bossolan - www.inebriado.wordpress.com

Um corredor para o princípio medíocre que na impaciência latente se desgasta tentando aquecer / Lá tem uma prateleira de cada lado / no corredor esquisito / nelas se encontram putas / vinhos / cadelas castradas doutrinadas em avassalar filhotinhos / uma burguesa obesa / um mendigo morto / a carta marcada que julga o destino e se mistura em qualquer baralho arquétipo / apostas perdidas / um pai sem os filhos e um filho resmungão que chora por ser mimado / Na altura dos braços corroídos pelo ácido gástrico está a escolha mais fácil que é fechar a porta / Tem um semáforo / mas não é colorido / metalicamente é branco cinza e negro / é como a vida os sonhos a morte / é o desejo a conquista o tesão / pode ser um derrame a degeneração o cansaço / era / foi / será / a escolha de parar no trânsito entupido de caridades destelhadas / seminuas em exposição ao avacalhado que anda de caralho duro esperando amamentar pestes bizarras / Não carregam nos pulsos relógios pois é atemporal o corredor da covardia / São lâminas de todos os tipos penduradas na pele e sem permissão rasgam mas não há sangue / não há nome / identificação / personificação de arrependimentos / tudo muito estranho / elas são pessoas de carne fria e parecem serpentes peçonhentas / Artigos jornais notícias das mais irrelevantes estão coladas no teto e lá os olhos cegos / não poderia ser outra coisa cega / se não uma alma mas não é o caso desse cenário desestruturado / são passagens bíblicas / não divinas mas das vidas alheias que acabaram sem saudade / e ficaram / e passaram / e divagaram / e nada aqui causaram / e a terra ou o mundo não conheceram os infelizes pilares arquitetos dessa árvore / Poliglotas saberiam cantar em flagelos / saberiam gemer em angústia / saberiam atrofiar em depressão / saberiam até pensar em desistir / Fúria no sangue coagulado que agora simplesmente escorre nas lâminas identificadas como escolhas / E numa ciranda o caos renasce Deus / misericórdia não há isso quando a negrume paira sob o céu / Dentro da tempestade que se faz quando uma pedrinha despetala a rosa manhosa / assim a faca do cangaceiro velho rasga o bucho dessas criaturas desavisadas que por curiosidade ficaram presas no corredor / Essa porra de corredor é um embargo e eu digo sem mais mistério condicionalmente é a merda do meu peito / Tudo bem / perdi a chave desse armário onde eu guardo a minha parafernália poética e chega medrosamente nos arrepios de minha promiscuidade puxar a maçaneta do rabo / E eu me meto nessa vida arrebitada sem contradizer os mais vividos / sem teimar com os perceptivos e sem / mas sem nada que me faça ser outro devasso dos prazeres noturnos / Não é bem assim confundindo epitáfios aumentando pra desviar ou apontando pra me esquivar / generalizando pra conturbar / Meticulosidade é fundamental e maquia toda minha reação narcisista / Rei na minha terra com as leis que descrevo nas missas matutinas e assim será o eterno sacramento infiel na história terrestre / É uma prisão de ventre / de cárcere social / de costumes padronizados / de atitudes constrangedoras que sabe-se lá quem inventou e mesmo assim continuo seguindo pra não contrariar a adaptação insustentável / Careço de um beijo / caroço na garganta / careço de um diálogo mais íntimo / caroço na língua / careço da saudade / caroço nas artérias / careço da momentaneidade / caroço de câncer / careço dela e só dela apenas ela sem várias / engana-se quem pensa / contando números primos e pares é apenas um corpo espírito coração desabafo apenas uma doação penosa alma adocicada noite eterna que durou até o amanhã / Eu nem entendo do sempre e digo como se fosse me lembrar mas eu sei que a falência será despertada numa próxima reviravolta / Não era pra ser pessoal / não tem outro jeito de erguer as tristezas nas costas e suportar a degola amorosa calado […]

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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