Leondenis Vendramim

500 anos da Reforma Protestante – 6

23/02/2018

500 anos da Reforma Protestante – 6

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

ARTIGO | O resultado do trabalho de Huss e dos hussitas foi visto no surgimento de outros movimentos (morávio, menonita, anabatista, batista do sétimo dia, valdenses, albigenses e muitos outros). Para evitar a prolixidade comentaremos apenas sobre os valdenses e, então sobre o luteranismo.

Pedro Valdo (1140 – 1220) foi um rico comerciante francês de Lyon. Com 36 anos de idade leu o Novo Testamento e decidiu dispor de todos os seus bens, reservou o necessário para o sustento de sua família, encomendou e patrocinou a tradução da Bíblia na linguagem do povo e distribuiu o restante aos pobres. Valdo ensinava: todos devem ler a Bíblia, tirar suas conclusões e agir de acordo com a Escritura; a Bíblia é autoridade acima do papa e do clero; os ofícios temporais e dignidades não são encontrados entre os pregadores do Evangelho; as indulgências do papa são fraudes; o purgatório é uma fábula; relíquias são simplesmente ossos podres que haviam pertencido a não se sabia quem; ir em peregrinação não servia para nada, senão para esvaziar as economias; a carne podia ser consumida em qualquer dia, mesmo na quaresma se o apetite lhe convier; água benta não é nem um pouco mais eficaz que a água da chuva; oração em um celeiro é tão eficaz como se oferecida em uma igreja. Rejeitavam o culto às imagens como idolatria; celebravam a santa ceia anualmente.

Criam na queda do homem; na encarnação e morte de Cristo na cruz como suficiente para pagar os pecados dos crentes; na doutrina da Trindade; na autoridade perpétua do Decálogo como dado por Deus; na necessidade da graça divina para praticar boas obras, na necessidade de santidade, na instituição do ministério, na ressurreição do corpo e na bem-aventurança eterna do céu.

Seus seguidores, os valdenses, também conhecidos como “Pobres de Espirito”, eram tidos como cidadãos de extrema honestidade. “O Nobla Leycon”, documento de 1200, uma declaração do credo valdense, diz o que pensavam seus opositores e como eram identificados: – “Se há um homem honesto, que deseja amar a Deus e reverenciar Jesus Cristo, que não faça calúnia, nem jure, nem minta, nem comete adultério, nem mata, nem rouba, nem se vinga de seus inimigos, eles num instante dizem que ele é um valdense e digno de morte”. Em 1179 Valdo foi ao concílio de Latrão 3 pleitear o direito de pregar, mas o Papa Alexandre III proibiu-o e insistiu na sua submissão às autoridades católicas. Como Valdo continuou radicalizado, foi excomungado pelo Papa Lucio III em 1184 e seus seguidores considerados hereges. Os bispos proibiram escolas e faculdades de receber professores e alunos valdenses e aos católicos receber seus ensinos. Os bispos diziam que os valdenses eram criaturas do Diabo, suas crianças nasciam com um só olho na testa e 4 fileiras de dentes pretos, e por isto o duque de Saboia quis verificar e ficou estupefato ao notar que as crianças eram normais (ver Heróis de Todas as Épocas, 35 a 37). O duque de Saboia sabia que os padres mentiam, pois os valdenses eram bons cidadãos, honestos, pacíficos e bons contribuintes de impostos. No entanto, ele e muitos outros governadores, em cujas terras havia esses pregadores, receberam ameaças dos papas (Inocêncio 3º, João 23, Clemente 6º, Inocêncio 8º) (Idem, 17) e, por imposição papal passaram a fazer guerras contra esse povo. Perseguidos, foram obrigados a fugir para os montes alpinos cobertos de neve. Certa vez o exército de La Palu atacou os valdenses, que fugiram pelo lado francês no alto do monte Peloux. Alcançados, os retardatários, crianças e velhos, foram destroçados, atirados em precipícios, muitos morreram enregelados. Grande número se refugiou numa caverna conhecida deles. La Palu ordenou que os soldados tocassem fogo nos galhos amontoados na boca da caverna. Mais de três mil morreram sufocados. O exército francês, formado por bandidos aos quais o Papa prometeu anistia pelos crimes cometidos, dizimou os valdenses, no vale de Pragelas (lado italiano dos Alpes), destruindo suas casas. Entretanto um número de sobreviventes, no século 16 filiou-se ao calvinismo e hoje espalham-se por Roma onde possuem uma faculdade de Teologia e um belíssimo templo. Ainda encontram-se grupos deles na Sardenha, Piemonte (Itália), nos EUA, Uruguai, Argentina e Rio Grande do Sul.

Recomendo a leitura de “História dos Valdenses” de J. A. Willye. Cassell and Company. E “Heróis de Todas as Épocas”, de Virgil E. Robinson. CPB.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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