ColunistasLeondenis Vendramim

Direito e Democracia 19

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História

Em 1854 Pio IX publicou uma encíclica qualificando as doutrinas da liberdade de consciência de “absurdas, errôneas, peste, e em 1864, anematizou os defensores da liberdade de consciência e culto”. (Do Imaginário à Santa Inquisição, p. 248).

Segundo a revista Veja (22/9/1999, p. 64) Pio 12 se omitiu em relação aos crimes de Adolf Hitler, e aliou-se ao nazismo na hecatombe de judeus. As duas instituições, exterminaram sem piedade, muitos milhões de judeus e cristãos: homens, mulheres e crianças, de formas mais cruéis, a Igreja Católica uniu-se com o nazismo na trucidação dos judeus. Empresas como Chase Mahatan, BMW, Volkswagen, Daimler Chrysler, General Motors, Opel, Varig do Brasil, IBM são algumas das 50 que contribuíram com dinheiro e tecnologia ao nazismo para facilitar a barbárie (Silverstein, Ken. “Ford e Führer”. Folha de S. Paulo, Mais, 27/2/2000 e 7/1/2001, p. A 12). A Igreja Católica e algumas dessas empresas obtiveram enormes lucros, usando para sua vergonha mão de obra escrava judia. Negros, pardos, homossexuais, deficientes físicos, judeus, ciganos, protestantes, muçulmanos e outros religiosos eram eliminados simplesmente por serem diferentes, ou de religião não católica. Era necessário purificar os arianos alemães, eliminar os “inferiores” e reformadores protestantes. Nos campos de concentração os hebreus tinham pouco alimento de má qualidade, dormiam em “gavetas” e tinham de trabalhar à exaustão e quando esquálidos e improdutivos, eram mortos em câmaras de gás ou a tiros diante de valetas por eles mesmos cavadas.

John Cornwell no seu livro: “Hitler’s Pope, The Secret History of Pius XII, p. VIII, disse ter escrito para vindicar o pontificado de Pio XII, mas próximo ao final da obra registrou estar em estado de “choque moral.” “Eugênio Pacelli não foi nenhum monstro, seu caso era mais complexo, mais trágico do que isso”. “Estou convencido que o veredito da história mostra Pacelli não como exemplo de santidade para futuras gerações, mas uma lamentável falha, da qual, católicos e outros crentes, podemos expressar nossa sincera decepção” (p. 384).

Pacelli foi insensível ante a execução de 7000 padres por ordem do sanguinário ditador espanhol Franco, concordou com o fascismo de Benito Mussolini, enviava dignitários eclesiásticos a cada dia 20 de abril, com os cumprimentos papais ao aniversariante Hitler, assinou concordata com o cruento ditador português Antônio Salazar, tratou amistosamente com o seu Monsenhor Joseph Tiso, sacerdote ditador da Eslováquia, que deportou 60.000 judeus para os campos de concentração nazistas, e ainda disse de Mussolini: “Ele é um bom homem, é um bom homem”. Ver Do Imaginário à Santa Inquisição, p. 247.

O Papa Pio XII mandou fazer o filme “Pastor Angelicus” ele mesmo, a principal estrela, carregando sobre os ombros uma ovelha, retratando-o como se fora o Cristo, o Bom Pastor, da parábola da ovelha perdida (Lc 15:3-7). Ele Intitulava-se “Vicarivs Christi” (Vigário de Cristo) (Idem, p. 246).

Nilton Bonder, rabino rosh (principal) escreveu: “O que é diferente é automaticamente ‘ruim’. Verdadeiramente amar o ‘outro’ é tão difícil e violento como amar o ‘ruim’ …O nazismo foi cirúrgico ao se ver ameaçado pelo ‘outro’ cultural – judeus e ciganos – como pelo ‘outro’ físico – gays e portadores de deficiência física. Erradicá-los significa iniciar uma nova era mais estética… Sem o ‘outro’ o mundo seria melhor… Mas essa é a mais ignorante das ideologias – a ideologia da dominação” Folha de S. Paulo, 2/11/99. Nilton Bonder. “A ditadura do bom”, p. 1.3. De acordo com essa lógica os papas Pio XI e Pio XII uniram-se a Hitler, a Mussolini e aos demais totalitaristas sanguinários por serem iguais e entre os quais se davam muito bem. Mesmo assim, o papa Paulo VI, em 1965 iniciou o processo de beatificação (santificação) de Pio XII e a Congregação reconheceu nele virtudes humanas; Bento XVI em 19/12/2009 o proclamou venerável (digno de reverência) e servo de Deus de virtudes heroicas. O processo de beatificação está parado nas mãos de Francisco I, que tem contrários, como o bispo Dom Carlos Duarte Costa, excomungado por sustentar publicamente a ligação de Pio XII com o nazifascismo e com a Operação Odessa, que providenciava passaportes diplomáticos do vaticano aos oficiais da SS.

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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Jornal O Semanário

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